Título: Disputas municipais afastam PT e PMDB e ameaçam aliança para 2010
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/04/2008, O País, p. 4
Das 27 capitais, petistas e peemedebistas só fecharam acordo em quatro
BRASÍLIA. As eleições municipais deste ano podem comprometer a grande aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para 2010, de unir numa mesma chapa os dois maiores partidos de sua base de sustentação: PT e PMDB. Para se ter idéia do clima de confronto já estabelecido entre as duas legendas, das 27 capitais, petistas e peemedebistas só conseguiram fechar aliança, por enquanto, em quatro: Fortaleza, Vitória, Boa Vista e Rio de Janeiro, sendo que no Rio a aliança em favor do candidato do PT, o deputado Alessandro Molon, sofre sérias resistências da bancada federal do PMDB.
Um levantamento preliminar feito pelo PMDB classifica como crítica a relação entre os partidos em pelo menos 14 capitais: Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, Aracaju, Recife, João Pessoa, Natal, Terezina, São Luís, Manaus, Campo Grande, Porto Velho, Rio Branco e Palmas. Em algumas cidades ainda há possibilidade de negociação, como Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Belém.
Mesmo disposto a atuar como bombeiro nos embates com o PT, para que isso não comprometa a aliança nacional, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), não disfarça seu empenho em buscar alternativas para o partido em 2010. Uma delas seria atrair o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, para as fileiras peemedebistas e transformá-lo num candidato da base governista à sucessão presidencial.
- Há uma interação entre Aécio e o PMDB, mas essa é uma coisa para o futuro - desconversa Temer.
Um dos desafios de Temer nas eleições deste ano será contornar a crise instalada na bancada federal do Rio por conta do apoio declarado do governador Sérgio Cabral à candidatura do deputado estadual Alessandro Molon à prefeitura da capital.
- Até sou a favor de uma aliança com o PT, mas não com Molon - diz o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos parlamentares mais fortes da bancada fluminense e presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Planalto quer pacto de não-agressão entre partidos
Temer espera promover um entendimento entre os grupos do PMDB do Rio, divididos entre as lideranças de Sérgio e Cabral e o ex-governador Anthony Garotinho. Mas sem intervenção.
Esse quadro de disputa entre PT e PMDB está tão acirrado que o Palácio do Planalto já pensa em estabelecer um pacto de convivência entre os dois partidos para evitar traumas insuperáveis nas eleições deste ano. A ordem é para que sejam articulados acordos prévios de não-agressão entre candidatos da base aliada, que viabilizem alianças no segundo turno.
Ciente de que a aliança com o PT será praticamente impossível na maioria dos municípios, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), defende que o Planalto estabeleça regras de convivência e assuma o papel de árbitro nos principais casos de disputa:
- Ou os partidos aliados passam a ter civilidade nas eleições, ou uma aliança em 2010 ficará muito difícil. Não pode ter golpe abaixo da cintura. Este ano de 2008 será o grande teste.
O clima de animosidade entre o PT e o PMDB começa a contaminar, inclusive, a relação dos dois partidos no Congresso, onde já se desenha uma guerra, por enquanto silenciosa, pelo comando do Senado. A eleição só ocorrerá no início de 2009, mas é um ingrediente a mais para alimentar o quadro de disputa.
Lula já recebeu o recado e prometeu se empenhar pessoalmente na pacificação entre o PT e PMDB. Reconhece que o PT terá de ser mais generoso com seus aliados nas eleições deste ano, até para garantir em 2010 melhores condições de negociação de uma chapa para a sucessão presidencial.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), está ciente dos riscos e conseqüências desse quadro de disputa entre petistas e peemedebistas na maioria das capitais, mas por enquanto descarta a possibilidade de uma intervenção da cúpula do partido nos diretórios municipais.
- O quadro é muito heterogêneo. A aliança nos municípios não é algo fácil. Mas temos que respeitar casos específicos. Não vamos trabalhar com a lógica da imposição para não criar traumas, e sim com a lógica do convencimento, considerando as dificuldades locais - diz Berzoini.