Título: Lula afirma que produção de etanol não ameaça a Região Amazônica
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 22/04/2008, Economia, p. 16

CRISE EM DISCUSSÃO: "Não aceitamos meia conversa sobre aumento", diz ele.

Para presidente, alta do preço do petróleo também encarece alimentos.

ACRA (Gana) e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a "guerra de informações" em torno dos biocombustíveis e da crise mundial de alimentos sequer começou. Ontem, durante a reunião da Unctad (Conferência das Nações Unidas pelo Comércio e Desenvolvimento), em Acra, voltou ao assunto. Desta vez, enfatizou: o etanol da cana-de-açúcar não ameaça invadir a Amazônia, não prejudica a produção de alimentos, reduz a poluição e é "sete vezes mais eficiente" que o etanol à base de milho, produzido nos Estados Unidos.

- A batalha ainda nem começou. Ainda estamos na fase das estratégias intelectuais, ou seja, dos cientistas. Olha, eu acho que é uma guerra em que o mundo vai ganhar, não é só Brasil. O Brasil apenas é o espelho mais forte do que pode acontecer com o biodiesel no mundo - disse ele, pouco antes de deixar Gana e retornar ao Brasil, na tarde de ontem. - A produção brasileira não envolve subsídios, não ameaça a Região Amazônica e não reduz o volume de alimentos. Estamos dispostos a compartilhar com a África os conhecimentos que adquirimos.

Lula também aproveitou seu programa semanal de rádio para defender os biocombustíveis. Falando de Acra, ele disse que o aumento do preço barril de petróleo também provoca alta nos custos dos alimentos.

- É importante também a gente alertar para os efeitos do aumento do petróleo. O aumento do petróleo encarece o transporte, o aumento do petróleo encarece a produção de fertilizante e tudo fica mais caro. Portanto, nós não aceitamos que haja meia conversa sobre a questão do aumento dos alimentos - afirmou ontem no programa.

No discurso que fez na ONU ontem, Lula voltou a atacar o protecionismo dos países ricos, cobrou as ajudas prometidas e nunca cumpridas e pediu maior empenho do Banco Mundial e do FMI para fomentar o desenvolvimento das regiões mais pobres. Citou a África como exemplo para cobrar dos ricos.

- Embora tenha 12% da população do mundo, a participação relativa do continente (africano) na riqueza mundial limita-se a 2,2%, e, no caso das exportações, a 2,7% - declarou, explicando que, embora alguns países africanos estejam crescendo a taxas aceleradas, a situação geral é preocupante: - É preocupante observar que poucos países desenvolvidos cumpriram a meta de conceder 0,7% de seu PIB para ajuda oficial ao desenvolvimento - disse, lembrando o acordo de Monterrey, firmado em 2002.

Lula que ampliar comércio com a África

Lula citou na Unctad o próprio caso brasileiro. De acordo com o presidente, a produção do etanol possibilitou o ingresso de mais de 1 milhão de pessoas no mercado de trabalho. Além disso, acrescentou, o uso de álcool combustível evitou a emissão de 644 milhões de toneladas de gás carbônico nos últimos 30 anos.

Ele frisou suas pretensões de ampliar o comércio e os projetos de biocombustíveis com a África. E afirmou que, em Gana, está em andamento um projeto para o plantio de 27 mil hectares de cana para produção de 150 milhões de litros de etanol por ano, destinados ao mercado sueco. A iniciativa, que envolve o setor privado brasileiro e tem apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), possibilitará a produção de 47 megawatts de eletricidade a partir do bagaço de cana.