Título: FMI: preço do petróleo reduzirá expansão global
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Fonte: O Globo, 22/04/2008, Economia, p. 17
CRISE EM DISCUSSÃO: Cotação do barril bate novo recorde em NY e fecha em US$117,48, maior patamar histórico.
Relatório do Fundo reforça que crise dos EUA ameaça a Europa e menciona possibilidade de BCE cortar juros.
ROMA, NOVA YORK e FRANKFURT. O vice-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), John Lipsky, disse ontem que o atual patamar dos preços do petróleo reduzirá o crescimento da economia mundial. Lipsky fez a previsão durante o Fórum Internacional de Energia, realizado em Roma, com a participação de 500 representantes de 74 países, 30 empresas petrolíferas e 14 organizações internacionais.
Em geral, disse Lipsky, o aumento dos preços das matérias-primas está afetando os balanços financeiros, a balança comercial e a inflação, e, conseqüentemente, a qualidade de vida.
De acordo com a análise do vice-diretor-gerente do Fundo, a alta do preço do petróleo não teve um impacto nos anos anteriores, o que permitiu manter a inflação sob controle e as economias continuaram crescendo num ritmo mundial de 3% em 2006 e 2,7% no ano passado. No entanto, Lipsky disse que essa situação começou a mudar com o aumento sobretudo dos preços dos alimentos e da energia.
Número 2 do FMI mostra preocupação com inflação
Segundo ele, a forte alta dos preços de alimentos e energia pode chegar a desestabilizar a economia global. E acrescentou que, ao se converter em um problema mundial, exigirá uma resposta coletiva.
- Os preços das matérias-primas em geral, especialmente dos alimentos e de energia, alcançaram níveis onde se corre o risco de se converterem numa força desestabilizadora para a economia global. Este é um problema global que requer uma resposta global coerente - afirmou Lipsky.
Prova dessa desestabilização, segundo Lipsky, é o que aconteceu com o arroz na Ásia, onde, depois que seu preço subiu, vários países impuseram limitações às exportações do produto. Ele lembrou ainda que a inflação está alcançando níveis de 4% nos EUA e 3,6% na zona do euro.
Lipsky destacou que, embora economias avançadas como a dos EUA tenham se desacelerado, a demanda por petróleo não havia sido reduzida em mercados emergentes como os de China, Índia e Oriente Médio, que representam dois terços do aumento do uso de energia na última década.
- Fundamentalmente, os preços do petróleo provavelmente se manterão em níveis altos devido às condições de ajuste de mercado - afirmou, acrescentando que a capacidade desocupada entre os produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) era apenas a metade de seus níveis entre 1996-2007.
Ontem, o preço do petróleo bateu novo recorde histórico nos EUA, puxado pelo temor de desabastecimento e a queda do dólar. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o contrato para maio subiu 0,6%, para US$117,48 o barril, superando o recorde de US$117 alcançado na semana passada. Durante a sessão, a cotação do barril chegou a US$117,76. Já na Bolsa Internacional de Futuros, em Londres, o barril do tipo Brent subiu 0,4%, para US$114,43, após alcançar o recorde de US$114,86, na sessão.
Fundo diz que desaceleração nos EUA afetará Europa
Em outro relatório divulgado ontem, o FMI afirmou que a desaceleração econômica nos EUA e os problemas nos mercados financeiros vão reduzir abruptamente o crescimento econômico na Europa, levando a expansão a um nível abaixo do potencial nas economias maduras da Região Ocidental por algum tempo.
No documento, o FMI manteve as principais previsões e recomendações políticas feitas no começo do mês no relatório "Panorama Econômico Mundial", incluindo o comentário de que o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra podem cortar as taxas de juros para proteger o crescimento.
"Ainda que a Europa esteja diante da turbulência financeira com fundamentos fortes, a contaminação da esperada recessão amena nos EUA, a reavaliação global dos riscos e a tensão no mercado financeiro estão minando o vigor da economia", diz o relatório.
O FMI estima que o prejuízo dos bancos europeus com a crise causada pelo colapso do mercado de hipotecas de alto risco (subprime) nos EUA atinja ao todo US$123 bilhões, dos quais US$43 bilhões ainda não foram reportados.