Título: Lugo não se espelha em Chávez, afirmam analistas
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 22/04/2008, O Mundo, p. 22
País precisa de respaldo político do Mercosul e novo governo deverá priorizar relações com Brasil e Argentina, seus maiores aliados.
BUENOS AIRES. Durante toda a campanha, o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, insistiu em dizer que não estava em seus planos se transformar numa espécie de Hugo Chávez paraguaio e reforçou a importância de consolidar a aliança com os países do Mercosul. Na visão de analistas paraguaios e argentinos e brasileiros ouvidos pelo GLOBO, o ex-bispo cumprirá sua promessa, já que precisa do respaldo dos governos do Brasil e da Argentina para governar sem maioria no Congresso e à frente de uma coalizão heterogênea.
¿ Lugo não vai pular a cerca do Mercosul. Ele poderá ter uma boa relação com os países andinos, mas por sua posição geopolítica e sua necessidade de respaldo regional para governar sem maioria no Congresso, o mais conveniente é uma forte aliança com os governos do Brasil e da Argentina ¿ explicou Bernardino Cano Radil, analista político e professor da Universidade Nacional de Assunção.
Segundo ele, ¿o presidente eleito deverá enfrentar uma transição difícil, que exigirá a negociação de acordos com seus opositores¿.
¿ A vitória de Lugo significa o início de uma nova era para o Paraguai. Mas não será uma etapa fácil para o país, pelo contrário, o novo governo tem um complicado desafio pela frente ¿ enfatizou o analista paraguaio.
Para o argentino Juan Tokatlián, professor da Universidade San Andrés, ¿Lugo tem um perfil muito mais moderado do que outros presidentes latino-americanos, porque vem de uma instituição (a Igreja) onde aprendeu a importância da reconciliação¿.
¿ O presidente eleito não busca dividir o país, acho que será um governo prudente e moderado, perfil que encaixa muito mais no Cone Sul do que na região andina¿ afirmou.
Embora tenha entre suas metas de governo renegociar as tarifas pagas por Brasil e Argentina pela energia importada do Paraguai, o novo presidente, disseram os analistas, tentará governar com o apoio de seus parceiros no Mercosul.
¿ Os governos do Brasil e da Argentina buscarão ter agendas convergentes com o novo presidente paraguaio, entre outros motivos, para evitar uma perigosa aproximação de Chávez ¿ argumentou Tokatlián.
Para ele, ¿a influência do presidente venezuelano está restrita à região andina, sobretudo Bolívia e Equador¿:
¿ A transição política paraguaia não será nada simples e Lugo precisará do respaldo de Brasil e Argentina. É fundamental prevenir uma crise de governabilidade no Paraguai.
O triunfo do chamado ¿bispo dos pobres¿ pôs fim à hegemonia do Partido Colorado e marcou o começo de uma nova etapa na História política do país. De acordo com a socióloga argentina Graciela Romer, ¿o resultado da eleição paraguaia mostrou que quando existe um clima de esgotamento social, não há estrutura política nem clientelismo capaz de impedir uma mudança de rumo¿.
¿ Ficou claro, para todas as democracias latino-americanas, que a tolerância de nossas sociedades é finita e quando ela se acaba torna-se inevitável uma profunda transformação política ¿ disse Romer. ¿ Em países com crescimento, mas sem distribuição da riqueza (como é o caso do Paraguai), a tolerância da sociedade é cada vez menor.
Para o cientista político e especialista brasileiro de Relações Internacionais Luiz Alberto Moniz Bandeira, a vitória de Lugo, além de um claro sinal do fortalecimento da democracia no Paraguai, não deverá implicar em problemas de negociação com o Brasil:
¿ O Brasil está disposto a negociar e a ajudar o Paraguai, o que não significa rever tratado. Um homem quando chega ao poder faz o que pode e não o que quer. E Lugo tem consciência disso.
Colaborou: Leonardo Valente