Título: Ducha Fria
Autor:
Fonte: O Globo, 21/04/2008, Economia, p. 14
O célebre ditado ¿gato escaldado tem medo de água fria¿ se aplica perfeitamente à decisão tomada pelo Banco Central de elevar os juros básicos em 0,5 ponto percentual. Com base na experiência do passado, as autoridades monetárias consideram que a economia brasileira não é capaz de conviver com um ritmo de crescimento de 5% e manter a inflação abaixo de 4,5%.
Riscos de aceleração na inflação, sem dúvida, existem. Os preços dos principais produtos agrícolas mais do que dobraram no mercado internacional desde 2006, e as cotações de matérias-primas essenciais, como petróleo, minérios e metais, não dão mostras que vão ceder. No entanto, também há outros indicadores relativos ao comportamento do consumo interno que reforçam a hipótese de uma acomodação ou até um ligeiro recuo da inflação nos próximos meses.
Mas o BC gato escaldado, que já na reunião anterior do Comitê de Política Monetária estava aflito para aumentar os juros, preferiu desta vez se antecipar aos acontecimentos. Prevenir para não remediar, como diz outro ditado.
O resultado prático disso é que, daqui para a frente, para continuar crescendo na faixa de 4,5% ao ano, a economia brasileira terá de contar fundamentalmente com os investimentos voltados para exportações ou para substituição de importações, o que inclui, por exemplo, infra-estrutura.
Os segmentos mais dependentes do mercado doméstico tendem a ser um pouco sacrificados. É bem provável que o consumo interno passe a crescer menos ¿ esse, aliás, é o objetivo das autoridades monetárias ¿ e que também a construção civil sofra algum impacto negativo.
Desde sua criação até o início de 2007, o Parque Tecnológico do Rio, na Ilha do Fundão, ligado à Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ), tinha recebido investimentos de R$30 milhões. Do ano passado para cá foram mais R$50 milhões, o que aproxima o parque de seus congêneres que deram certo em outras partes do mundo.
O parque tem cerca de 350 mil metros quadrados na melhor parte da Ilha do Fundão (de frente para a Baía de Guanabara), sendo que na área já urbanizada apenas 30 mil estão livres ¿ ainda há 100 mil por urbanizar.
Dez prédios serão inaugurados ao longo deste ano, sendo que oito deles ficarão temporariamente ocupados por projetos da Petrobras até que a expansão do Cenpes (centro de pesquisas da empresa) fique pronta. Um dos novos prédios será um centro de estudos preparado para projetos em 3D (três dimensões), que inicialmente se concentrará em projetos relacionados com a Amazônia.
O parque abriga pequenas manufaturas de alta tecnologia e incubadoras de empresas. Uma delas, formada por antigos professores da UFRJ, produz membranas separadoras de resíduos industriais, que podem reduzir o tempo e a energia necessários para produção de álcool e ainda ¿pasteurizam a frio¿ o chope, o que dá à bebida bem mais durabilidade (pelo menos três meses) sem alterar seu sabor.
Esses empreendimentos que utilizam o parque empregam no total cerca de 500 pessoas, das quais 200 mestres e doutores (no Brasil, possivelmente, apenas a Petrobras contratou tantos pós-graduados no mesmo período).
Na área que será urbanizada estão reservados 10 mil metros quadrados para abrigar a fábrica da Symatrix, companhia americana presidida por um brasileiro, que tem mais de 150 patentes, e se propõe a montar no Rio sua primeira manufatura ¿ de cartões magnetizados para diversas utilidades, como bilhetagem automática em transportes urbanos.
Com essas novas instalações, trabalharão no parque mais 1.500 pessoas que, somadas às 2.500 previstas para o novo centro de pesquisas da Petrobras, devem mudar o perfil dos que se dirigem diariamente à Ilha do Fundão. Será mais um estímulo ao projeto de uma nova linha de trem de passageiros que sairia da estação de Bonsucesso com destino à Ilha do Governador, parando na cidade universitária e no acesso ao aeroporto do Galeão.
Em alguns portos brasileiros, os navios só podem receber cargas previamente contratadas. A partir do momento que atracam não é possível aceitar cargas novas. Em Manaus, é comum navios de carga geral passarem quatro dias no porto. Se empresas locais fizerem uma venda repentina que coincida com a estadia da embarcação não podem aproveitar essa oportunidade do transporte, mesmo que haja espaço no navio.
Além da reivindicação salarial, os auditores da Receita Federal estão insatisfeitos com o seu sistema de avaliação ¿ programado pelo Ministério do Planejamento para começar por lá e se estender depois para toda a administração federal. Eles esperavam que, por esse sistema, viessem a ter maior pontuação os que trabalhassem mais, estabelecendo-se assim uma escala para progressão na carreira e transferência para postos nas capitais. No entanto, o sistema tem premiado aqueles que já ocupam cargos de confiança e participam de cursos, treinamentos ou grupos de trabalho. Porém, como as indicações para esses cursos são feitas pelos que têm cargos de confiança, acabam sendo promovidos apenas os que estão alinhados com a administração. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 816 palavras Edição: 1 Página: 14 Coluna: George Vidor Seção: Caderno: Primeiro Caderno
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