Título: Pai e madastra são indiciados
Autor: Oliveira, Germano ; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 19/04/2008, País, p. 3

Germano Oliveira, Tatiana Farah e Lino Rodrigues

No dia em que Isabella Nardoni completaria 6 anos, seu pai, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram indiciados por sua morte. Os dois vão responder por homicídio qualificado, com os agravantes de que o crime foi cometido por motivo torpe e sem chances de defesa à vítima. O crime prevê pena de no mínimo 12 anos e no máximo 30 anos de prisão. Isabella foi jogada da janela do apartamento do pai, no sexto andar, na noite de 29 de março. Alexandre e Anna Jatobá negam o crime e dizem que Isabella foi morta por um ladrão que teria entrado no prédio.

A polícia tentou, durante o dia todo, que o pai confessasse o crime, mas ele nega a autoria, contrariando provas obtidas em laudos periciais do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto Médico-Legal (IML). Os laudos levaram os delegados Calixto Calil Filho e Renata Pontes a concluir que a madrasta Anna Carolina espancou e sufocou a menina pelo pescoço; depois disso, o pai jogou o corpo desfalecido pela janela para simular que ela teria sido vítima de um bandido que teria entrado no apartamento. A polícia não encontrou vestígios de uma terceira pessoa no apartamento na noite do crime.

A informação do indiciamento do casal foi dada pelo delegado Aldo Galeano, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), chefe de todos os delegados de São Paulo, por volta das 18h. O depoimento de Alexandre foi interrompido e retomado. Por volta das 20h, começou o depoimento de Anna Jatobá. O delegado disse que os dois poderiam, durante a madrugada, ser submetidos a acareação, para confrontar versões consideradas divergentes e contraditórias.

¿ Não posso dizer se confessaram ou não. Não posso revelar o que aconteceu no depoimento porque o caso está sob sigilo determinado pelo doutor Calixto (delegado Calixto Calil Filho, que comanda o inquérito) para não prejudicar a investigação. Só posso dizer que os dois foram indiciados pelo artigo 121 (do Código Penal).

Galeano disse que o caso está praticamente solucionado, mas que a polícia ainda não pediu a prisão preventiva do casal.

¿ Para se fazer uma prisão preventiva, deve-se fazer com base na documentação, na avaliação de todos os laudos. Ela precisa ser bem embasada, então não é o momento.

Para madrasta, chance de reduzir a pena

A polícia investiga a motivação para o crime. Isabella estaria carregando o meio-irmão de 1 ano no colo, e o teria deixado cair. Isso teria motivado a fúria da madrasta, que passou a agredir Isabella. Essa versão seria submetida a Anna Jatobá no depoimento. A polícia ofereceu a ela a possibilidade de confessar o crime, dizendo que teria uma pena mais branda, de oito anos de prisão, pelas agressões, já que não teve intenção de matar. E que Alexandre, ao jogar a menina, é que teria cometido o homicídio.

O primeiro a depor foi Alexandre, a partir das 11h45m. Os delegados Calil Filho e Renata Pontes lembraram a ele que seria aniversário de 6 anos de Isabella. Os dois passaram a relatar a ele tudo o que a polícia havia apurado, inclusive com uso de telão e imagens das cenas das perícias feitas. Mostraram fotos do álbum de Isabella desde bebê. Os policiais queriam despertar emoção em Alexandre. Mostraram os indícios contra ele: que a polícia não detectou pegadas de ninguém no apartamento além das do casal e dos filhos e que, portanto, os dois estariam envolvidos no crime.

O delegado disse a Alexandre que a polícia tinha provas técnicas de que Anna Carolina espancou Isabella e a esganou. A menina ficou sem ar no cérebro por três minutos e desmaiou. Foi carregada pelo apartamento, respingando sangue em vários cômodos. A calça jeans de Anna Jatobá ficou suja de sangue, e testemunhas disseram que ela não chegou perto do corpo da criança depois que ela foi encontrada caída no jardim. O ferimento que a menina tinha na testa, e que sangrava, foi limpo com uma toalha de rosto e uma fralda d o irmão caçula, que completou 1 ano anteontem. Toalha e fralda foram lavadas depois do crime, mas foram recolhidas, e os vestígios de sangue, detectados pelos técnicos.

A polícia seguiu apresentando suas convicções: pensando que a menina estivesse morta, Alexandre cortou a tela da janela para jogá-la e simular que alguém havia entrado no apartamento e atacado a menina. Fiapos da tela ficaram em sua roupa. Ele subiu na cama e a marca do seu chinelo ficou no lençol. E suas roupas tinham vestígios de sangue.

Ao final dessa explanação, o delegado perguntou se Alexandre queria mudar seu primeiro depoimento. Alexandre não quis, e respondeu a todas as 50 perguntas. Ele podia ter optado por nada responder, alegando que só falaria em juízo. Na sala, estavam dois de seus advogados e o promotor Francisco Cembranelli. O pai de Alexandre, o advogado Antonio Nardoni, não pôde acompanhar o depoimento do filho.

Anna Jatobá aguardou mais de oito horas antes de depor. Nesse período, dormiu durante três horas, encostada a uma cadeira. Não comeu a pizza oferecida pelos policiais. Só comeu um pedaço de pão, por volta das 19h. O mesmo ritual dos policiais seria repetido com Anna Jatobá, com a exposição das provas contra o casal. O delegado Calil Filho vai ouvir hoje o pai de Alexandre, Antonio, e a irmã, Cristiane. Depois disso, vai preparar o relatório do inquérito e enviá-lo ao promotor Francisco Cembranelli na terça-feira. Quando concluir o inquérito, Calil Filho deverá pedir a prisão preventiva do casal. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O País Tamanho: 988 palavras Edição: 1 Página: 3 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno