Título: Rio a um passo da maior epidemia de dengue
Autor: Cássia, Cristiane de; Souza, Dicler de Mello e
Fonte: O Globo, 22/04/2008, Rio, p. 13

Estado já tem extra-oficialmente 90 vítimas do "Aedes", um óbito a menos do que os 91 registrados em 2002

O número de mortes por dengue no Rio, que extra-oficialmente está em 90, pode igualar ou ultrapassar hoje o maior registro de óbitos da história da doença no estado, que aconteceu em 2002, quando houve 91 mortes. Ontem, por ser feriado, a Secretaria municipal de Saúde não atualizou os números sobre a doença, o que deve ser feito hoje. Já a Secretaria estadual de Saúde, que costuma divulgar um balanço toda quarta-feira, poderá informar os dados hoje ou somente na quinta-feira, devido ao novo feriado.

Ontem, no litoral sul do estado, mais uma pessoa morreu com suspeita de dengue. A informação foi dada pelo secretário municipal de Saúde de Angra dos Reis, Édson Miranda. Ele disse que não poderia revelar o nome da vítima - uma mulher - até que o caso seja confirmado, num prazo de 20 dias, pela Fundação Oswaldo Cruz. Mas revelou que a paciente apresentava todos os sintomas da doença. Se confirmado, este será o quinto óbito por dengue na cidade e o 91º no estado, o que igualaria o número de 2002. Oficialmente, no entanto, a Secretaria estadual de Saúde contabiliza 87 mortes, porque as mais recentes dependem de confirmação.

O secretário disse que a paciente estava internada na Santa Casa de Misericórdia de Angra e morreu no último sábado. Até sexta-feira, 6.460 casos tinham sido notificados e mil confirmados em Angra. Ontem a prefeitura realizou um mutirão de combate aos focos do mosquito no Belém, um dos bairros com maior número de casos em Angra.

Posto abandonado vira possível foco de mosquitos

As ações do poder público, no entanto, parecem não acompanhar o crescimento do número de focos. Em Realengo, Zona Oeste do Rio, o mesmo lugar que deveria abrigar um posto para atender doentes está cheio de poças d"água, que podem ser criadouros do mosquito. Dezenas de moradores da região protestaram ontem junto à obra do posto abandonado há três anos. Uma menina de 8 anos que morava na região morreu no dia 7 vítima da dengue. Na última quarta-feira, foi a vez da estudante de administração hospitalar Maria das Dores Rufino da Silva, de 36 anos.

- Minha filha descobriu que estava com dengue num posto de saúde em Sulacap. Uma semana depois foi internada e morreu com hepatite e insuficiência renal. Se o posto mais perto de casa estivesse funcionando, talvez ela tivesse sido melhor acompanhada e não chegaria a morrer - lamentou a mãe de Maria, Expedita Rufino.

A obra parada do posto de saúde fica perto do Cemitério do Murundu. No local seria construído um módulo do Programa de Saúde da Família. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, a empresa executora desistiu, mas um novo orçamento já foi feito e a construção pode ser concluída até o final do ano. Há dez dias foi realizada uma vistoria no local e focos de dengue foram eliminados. Uma cisterna foi tampada. Haverá nova vistoria esta semana.

Uma poça d"água formada sobre a tenda de hidratação no Parque Ary Barroso, na Penha, também chamava a atenção de quem estava no local. A Secretaria estadual de Saúde informou que as lonas que cobrem as tendas são colocadas em forma de "V" invertido, exatamente para evitar o acúmulo de água de chuva. Ainda de acordo com a secretaria, o local será examinado e a água, retirada.

A tenda estava cheia ontem e, segundo os atendentes, o movimento voltou ao que era há uma semana. Desde quarta-feira passada, quando o tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo do Alemão assustou quem estava no local, a freqüência tinha caído cerca de 20%.

- Estive com meu neto Pedro, de 4 anos, se hidratando aqui na sexta-feira e hoje (ontem) está bem mais cheio - disse a auxiliar de serviços gerais Maria Conceição Melo.

As crianças eram a maioria dos pacientes atendidos ontem na tenda de hidratação de Caxias, na Baixada Fluminense. Fábio Correia, de 8 anos, era uma das que recebiam soro.

- O posto de Santa Cruz da Serra estava lotado de crianças passando mal. Quando é que essa epidemia vai parar? - indagava o pai de Fábio, Rodrigo Correia.