Título: Relator da cpi pedirá investigação de gastos indevidos de gushiken à cgu
Autor: Gripp, Alan ; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 19/04/2008, País, p. 12

BRASÍLIA. O relator da CPI do Cartão Corporativo, o deputado petista Luiz Sérgio (RJ), pedirá à Controladoria Geral da União (CGU) que investigue os gastos indevidos do ex-ministro Luiz Gushiken. Ele usou dinheiro sacado com um cartão da antiga Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica para pagar jantares com convidados em hotéis luxuosos e bebidas alcoólicas, como mostrou ontem O GLOBO. Novos documentos em posse da CPI revelam que o petista também usou recursos públicos para custear serviços de fisioterapia e até de cabeleireiro em viagens oficiais.

Para Luiz Sérgio, as prestações de contas reveladas ontem já são suficientes para lançar suspeitas sobre os gastos do ex-ministro. Nos próximos dias, a CPI vai investigar as despesas de Gushiken e verificar se ele ressarciu os cofres públicos pelos gastos, como alegou ontem.

¿ São indícios de irregularidades. Vou encaminhar as notas à CGU para que sejam investigadas ¿ disse Luiz Sérgio.

Despesa de R$1.112 em bar e restaurante de São Paulo

Os papéis enviados à CPI mostram que Gushiken pagou R$50 por uma visita ao cabeleireiro e R$90 por uma sessão de fisioterapia durante viagem oficial, em julho de 2004. A despesa está registrada em nota do Hotel Crowne Plaza (SP), no valor de R$2.045. Segundo a fatura, o petista gastou R$1.122 apenas no restaurante Zafferano e no bar executivo Red Horse.

Outras notas fiscais mostram que o ex-ministro também usava recursos sacados com o cartão corporativo da ecônoma Maria da Penha Pires, da Presidência da República, para oferecer jantares a convidados em restaurantes sofisticados de Brasília, como o Mouraria e o japonês Nippon. Essa prática já levou a CGU a determinar que os ministros Orlando Silva (Esporte) e Altemir Gregolin (Secretaria da Pesca) devolvessem o dinheiro aos cofres públicos.

De acordo com o Portal da Transparência, da CGU, Maria da Penha gastou R$74 mil com seu cartão apenas em 2004, ano das notas entregues à CPI. Gushiken disse que fazia os pagamentos com seu cartão pessoal e depois pedia reembolso. Segundo ele, não eram devolvidos os valores gastos com bebidas alcoólicas e outras despesas pessoais, embora não haja indicação disso nos processos analisados até aqui pela CPI. O ex-ministro disse não se lembrar de despesas com cabeleireiro. Sobre a fisioterapia, afirmou que, à época, necessitava de cuidados de saúde. Por fim, disse ser normal pagar almoços para convidados ¿ entendimento contrário ao da CGU:

¿ Todo homem de poder faz almoços de trabalho. Não estou sabendo dessa regra, mas vejo isso como normal. Acho um absurdo a maneira como isso (os gastos com cartões) tem sido posto (pela imprensa).

Segundo a CGU, para investigar as despesas de Gushiken, é preciso um pedido oficial do Planalto. O novo sub-relator de fiscalização de gastos da CPI, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), defendeu que as notas de Gushiken também sejam auditadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU):

¿ O tribunal é um órgão isento e mais rigoroso para investigar essas despesas.

Gushiken foi um dos principais quadros do primeiro governo Lula. Ele perdeu o status de ministro em 2005, após ser envolvido no caso do mensalão, mas ficou no governo até o fim de 2006. É um dos réus da ação penal do mensalão, que tramita no Supremo Tribunal Federal.

A Casa Civil entregou ontem à Polícia Federal seis computadores e um pen drive usados por seis servidores encarregados de montar o banco de dados com gastos do cartão corporativo desde o governo Fernando Henrique. Os computadores serão submetidos à perícia. O pen drive contém a planilha com parte dos dados do cartão corporativo. A PF dispõe agora de 13 computadores da Casa Civil. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O País Tamanho: 636 palavras Edição: 1 Página: 12 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno