Título: Para Lula, Lugo deve descer do palanque
Autor: Aggege, Soraya ; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 23/04/2008, Mundo, p. 25
Ordem é endurecer discurso do governo brasileiro num primeiro momento
Eliane Oliveira, Gerson Camarotti, Luiza Damé e Chico de Gois
BRASÍLIA. O governo brasileiro avalia a possibilidade de oferecer compensações ao Paraguai que não envolvam uma renegociação do tratado de Itaipu. O tema da usina binacional foi discutido ontem durante uma reunião da coordenação política em Brasília, comandada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na reunião, foi dito que o Brasil já vinha se preparando para discutir o valor das tarifas de energia pagas ao Paraguai. A avaliação foi que, no momento oportuno, Brasília vai conversar com o presidente paraguaio. O governo acredita que primeiro é preciso ouvir suas reivindicações, que podem não outras além de um aumento.
Incomodado com a pressão de Lugo, Lula disse a assessores próximos que a ordem é endurecer o discurso do governo brasileiro em relação ao pleito do país vizinho num primeiro momento porque não quer fazer de Itaipu o assunto central da agenda bilateral. Lula avalia que Lugo tem que descer do palanque para negociar com o Brasil em outros termos.
Ontem, a ordem no Palácio do Planalto foi afinar o discurso em relação à renegociação do Tratado de Itaipu, após a interpretação de que as declarações de Lula e do chanceler Celso Amorim foram conflitantes.
Na reunião, não se descartou que haja um pequeno reajuste na tarifa paga pelos brasileiros pelo Megawatt/hora, de US$41,80 (US$39 mais US$2,80 por cessão de direito). Segundo avaliação apresentada ao presidente, não seria preciso alterar o tratado assinado pelos países em 1973, com prazo de vigência até 2023.
Um ajuste não renderia ao Paraguai mais do que os cerca de US$400 milhões que hoje ficam líquidos no caixa paraguaio, como diferença entre o pagamento da energia que o Brasil compra e a quitação da dívida que os paraguaios mantêm com o Tesouro Nacional. Os US$2 bilhões pedidos por Lugo estão fora de cogitação.
Compensações adicionais, na forma de obras e financiamento a investimentos, também serão oferecidas, entre as quais a construção de uma linha de transmissão de Ciudad del Este a Assunção, e a execução de obras para que o Rio Paraguai se torne navegável. Somente esses dois projetos somam cerca de US$1,2 bilhão.
No entanto, um ponto já está decidido pelo governo: o Brasil dirá não ao pedido paraguaio de abrir mão da preferência de compra do excedente de energia que cabe ao Paraguai. Assunção indicou que gostaria de vender o excedente por um preço melhor para outros mercados, como Chile e Argentina. Para o Brasil, isso seria uma alteração no tratado.
¿ Este é o cerne do tratado ¿ disse uma fonte do Palácio do Planalto, lembrando que a economia brasileira vem crescendo, o que demanda mais energia. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O Mundo Tamanho: 471 palavras Edição: 1 Página: 25 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno
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