Título: Fiéis lotam igrejas para homenagear São Jorge
Autor: Costa, Ana Claúdia
Fonte: O Globo, 24/04/2008, Rio, p. 16

No Centro, as missas começaram a ser celebradas a partir da alvorada; o altar foi montado na Presidente Vargas

Cerca de 150 mil fiéis se vestiram de vermelho e branco ontem para homenagear São Jorge, o Santo Guerreiro. Desde as primeiras horas, ao toque da primeira alvorada de fogos às 5h, fiéis já se aglomeravam em frente às igrejas de São Jorge, tanto no Campo de Santana, no Centro do Rio, como no bairro de Quintino. Pela primeira vez é feriado em homenagem ao Santo Guerreiro em todo o estado. A lei do feriado, de autoria do deputado estadual, Jorge Babu (PT), foi sancionada pelo governador Sérgio Cabral, no dia 6 de março. Desde 2002, a data era feriado municipal.

Na igreja do Campo de Santana, no Centro, segundo a polícia, 60 mil fiéis assistiram às missas celebradas durante todo o dia. Às 5h, a primeira missa teve a participação das bandas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Para as missas foi montado um altar na Avenida Presidente Vargas, próximo ao Campo de Santana. A visitação à imagem do Santo Guerreiro na igreja era feita através de uma fila que, às 12h de ontem, dava a volta no Campo de Santana.

Integrante da Irmandade de São Jorge, a aposentada Sebastiana dos Anjos Batista, de 65 anos, não exibia cansaço ao revelar que estava na porta da igreja desde as 22h do dia anterior. Moradora de Irajá, ela chegou antes para a festa por medo da violência.

¿ Venho todos os anos. Este ano tenho pedidos especiais para acabar com a violência. Tudo o que pedi a São Jorge até hoje consegui. É um santo milagroso ¿ afirmou a devota do santo.

Barraqueiros denunciam pagamento de taxa

Na Igreja de São Jorge, em Quintino, o pároco Marcelino Modelski disse que esperava que cerca de 80 mil fiéis passagem pela imagem do santo durante todo o feriadão. Ontem, barraqueiros da Avenida Clarimundo de Mello reclamaram que milicianos cobravam R$20 por noite para que pudessem trabalhar na festa de São Jorge.

O padre Marcelino confirmou que milicianos que agem no Morro da Caixa D¿Água o procuraram oferecendo segurança para a festa do santo, mas ele não concordou. Toda a segurança no entorno da festa foi feita por cerca de cem policiais do 9º BPM (Rocha Miranda).

¿ Não aceitei a oferta, porque a polícia existe para isso ¿ afirmou o padre.

Um delegado e um policial civil, a pedido do padre, também estiveram ontem na igreja. O comandante do batalhão da área, tenente-coronel Robson Batalha, não quis comentar sobre a possível ação de milicianos. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar as denúncias de que milicianos estariam cobrando taxas dos barraqueiros que trabalharam na festa de São Jorge, em Quintino. De acordo com o inspetor João Luiz, da 28ª DP (Campinho), todos os barraqueiros já foram identificados pela polícia e serão intimados a depor.

Em Niterói, uma missa realizada no 12º BPM (Niterói), seguida de uma procissão, também marcou os festejos pelo dia do Santo Guerreiro. Comandante do 1º Comando de Patrulhamento de Área (CPA) e devoto de São Jorge, o coronel Marcus Jardim acompanhou a celebração no município.

¿ Sou devoto de São Jorge, que protege os policiais em todos os confrontos. Acompanho as missas para agradecer pela proteção ¿ disse ele.

Comerciante devoto doa mil pratos de feijoada

Ainda no Centro, devotos de São Jorge puderam saborear uma feijoada em homenagem ao Santo Guerreiro. O comerciante Márcio Pacheco, dono do bar Beco do Rato, na Lapa, distribuiu mil pratos de feijoada em agradecimento, segundo ele, às bênçãos recebidas.

Márcio contou que já fazia a feijoada há quatro anos, mas este ano, devido ao progresso profissional, resolveu aumentar o número de refeições. A feijoada foi servida às 13h, mas desde 11h moradores de rua já se aglomeravam para disputar um prato de feijão.

¿ Quero fazer da festa uma tradição em agradecimento a tudo que consegui graças a São Jorge ¿ disse o comerciante.

Em Santa Cruz, quatro mil cavaleiros percorreram as ruas do bairro numa procissão em homenagem a São Jorge. Ao todo, 50 pessoas acompanharam o cortejo, que começou a ser realizado em 1963 como agradecimento pelo fim de um surto de tifo ocorrido no bairro.

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