Título: Paraguai: tensão aumenta na véspera da eleição
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 19/04/2008, O Mundo, p. 31
Partidários de Lugo dizem que não aceitarão resultado com derrota e ex-bispo fala de novo em renegociar Itaipu.
ASSUNÇÃO. Restando apenas um dia para a eleição que pode encerrar um período de seis décadas de predomínio do Partido Colorado, o Paraguai vive momentos de tensão antes do pleito de amanhã. Dirigentes da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), coalizão do candidato opositor Fernando Lugo, afirmaram que não aceitarão um resultado desfavorável, e o próprio ex-bispo disse ontem que teme uma fraude. Por sua vez, Lugo voltou a bater na tecla da renegociação do tratado de Itaipu com o Brasil para definir um novo preço pela energia da hidrelétrica.
- A energia que se vende ao Brasil não é por um preço justo; ninguém vende energia pelo preço de custo, sem o valor de mercado - disse ele, criticando o tratado de 1973, assinado no período em que Brasil e Paraguai eram governados por ditaduras militares. - Acreditamos que (o acordo de) Itaipu foi feito com falhas democráticas, sem a participação dos cidadãos
Colorados atacam carro de partidário de Lugo
O clima de enfrentamento entre os concorrentes, numa campanha repleta de acusações de parte a parte, chegou a gerar confrontos entre seguidores dos partidos ontem na capital do país, Assunção.
Um grupo de 90 colorados atacou um carro de um militante da APC na madrugada de ontem. Um comitê de campanha de Lugo também foi atacado. Um grupo de 35 membros da APC foi para um comitê colorado, mas a polícia evitou uma briga maior. O enfrentamento e a possibilidade de distúrbios no dia da eleição levaram o presidente Nicanor Duarte a pedir calma.
- O Estado e suas instituições estão prontos para garantir a participação da cidadania para o exercício de seu direito ao voto no domingo - disse Duarte, membro do Partido Colorado.
Até as declarações de ontem, Duarte vinha sendo um dos principais responsáveis por alarmes sobre possíveis ações violentas no dia do pleito. Ele chegou a acusar estrangeiros de terem entrado no país para provocarem distúrbios.
Lugo, por sua vez, não fez maiores esforços para evitar uma onda de revolta em caso de derrota. O candidato disse durante a semana que não aceitaria os resultados parciais oficiais caso sejam contrários a ele. Ontem, membros de sua coalizão disseram que não reconhecerão qualquer resultado oficial negativo, mesmo após a contagem total. Em vez de amenizar as declarações dos correligionários, Lugo falou de fraude.
- É um tema que se respira no ar porque não existe um sistema eleitoral perfeito, quimicamente puro, no qual não prosperem elementos de desconfiança e dúvidas.
Lugo tem vantagem nas pesquisas de opinião
Em resposta às declarações de Lugo, Duarte ironizou:
- Não podemos nos declarar democratas por um lado e, por outro, dizer que não vamos aceitar os resultados. Esta é a atitude tomada pelos derrotados.
Nas últimas pesquisas eleitorais, Lugo está cinco pontos percentuais à frente da candidata do governo, a colorada Blanca Ovelar, com o ex-general Lino Oviedo seis pontos atrás dela.
Preocupada com a possibilidade de conflitos em torno dos resultados parciais das eleições de domingo, a chefe da missão de observadores da Organização dos Estados Americanos no Paraguai, Emma Mejía, pediu ontem que os candidatos evitem se autoproclamar vencedores. Segundo ela, o único resultado aceitável será o do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.