Título: Dólar em queda, importados 40% mais baratos
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 24/04/2008, Economia, p. 27

AMEAÇA GLOBAL: Com câmbio mais baixo, procura por programas de intercâmbio chega a ser 50% maior este ano

De bebidas a eletrônicos, preços dos itens caem com desvalorização da moeda, que fechou a R$1,659 ontem

O mesmo dólar desvalorizado que ajuda a pressionar a inflação dos alimentos no mundo - e traz conseqüências negativas para o bolso do consumidor brasileiro - já está se traduzindo, por outro lado, em reduções de mais de 40% nos preços dos produtos importados, de bebidas a eletrônicos. Ontem, a moeda americana fechou a R$1,659, queda de 0,06% em relação ao dia anterior. Em 30 dias, o dólar acumula desvalorização de 4,21%. No ano, a perda é de 6,64%.

- Há vinhos mais baratos hoje do que em 1998. Há alguns anos, nenhum economista poderia imaginar o dólar nesse patamar. Agora, para surpresa, já se vislumbra a possibilidade de um dólar valer em torno de R$1,50 - disse Daniel Plá, presidente do conselho de varejo da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Na Lidador, alguns vinhos estão com preços 20% menores do que há um mês. Caso do tinto Português Herdade da Sobreira, por R$77,53. As cervejas importadas ficaram, em média, 15% mais baratas.

- Alguns rótulos especiais (de cerveja), que custavam em média R$70, podem ser encontradas por R$40. Os clientes tinham se esquecido de procurar por essas cervejas e agora voltaram a comprar - comemorou Luiz Garcia, gerente da Lidador no Shopping Tijuca.

Na Fuss Connection do Botafogo Praia Shopping, as vendas de importados cresceram 15% desde fevereiro, com destaque para TVs de última geração.

- As TVs de LCD foram as que tiveram maior queda e estão entre os itens mais vendidos e procurados - disse o gerente Arthur Alexander, citando o modelo da Sony de 32", que caiu de R$2.999 para R$2.499, desconto de 17%.

Mais qualidade nos produtos populares

Enquanto artigos sofisticados caíram de preço, os populares melhoraram a qualidade, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (Abipp). De acordo com a entidade, pelo mesmo valor, é possível importar itens de melhor qualidade.

- A classe C tem ampliado sua fome para consumir, comprando artigos típicos da classe média - disse Plá, lembrando que a cotação rasante do dólar mantém os preços sob controle, estimulando também o consumo da classe média, presa a longos financiamentos.

Na Época Cosméticos, marcas como Calvin Klein, Dolce Gabana, Hugo Boss e Ralph Lauren tiveram suas tabelas reduzidas entre 10% e 20%, desde o segundo semestre de 2007. E no ateliê Splenda, pashminas importadas de China, Índia, Paquistão e Itália tiveram desconto de 30% este mês.

Viajar também se tornou mais fácil. Na agência Experimento Intercâmbio, os preços dos programas de intercâmbio internacionais caíram em média 10%.

- A redução dos custos é tanta que tem feito muitos anteciparem viagens. A procura por programas de intercâmbio chegou a ser 50% maior em alguns períodos do ano passado e deste - afirmou Flávia Serra, gerente da Experimento.

Gilberto Catran, diretor-executivo da Associação dos Lojistas de Shoppings Center do Estado do Rio (Aloserj), alerta que os preços podem ficar ainda mais em conta, já que muitas peças foram compradas com a cotação antiga, mais alta. No caso de vestuários importados, diz, os preços menores devem vir na coleção de inverno.

Mercado embolsa lucros e Bovespa recua 0,71%

Ontem o dólar oscilou entre R$1,654 e R$1,663, antes de fechar em R$1,659. A moeda operou com volatilidade devido a rumores, depois desmentidos, de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) poderá elevar a tributação do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros em renda fixa. O Banco Central comprou em torno de US$292 milhões no mercado.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu ontem 0,71%, para 64.947 pontos, com investidores embolsando o lucro dos últimos dias. Nos EUA, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,3%. (Com Juliana Rangel)