Título: Conselheiro do BNDES é preso
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 25/04/2008, O País, p. 3

Indicado pela Força Sindical, advogado é acusado de prostituição e fraude; outras 9 pessoas são detidas

APolícia Federal prendeu ontem em São Paulo dez pessoas acusadas de desviar recursos do BNDES num esquema que envolve prefeituras paulistas e uma das maiores cadeias de lojas de varejo do país (a PF não informou qual). Entre os presos está Ricardo Tosto, um dos advogados mais conhecidos do país e membro do Conselho de Administração do BNDES, além de um sindicalista, um coronel reformado da PM, servidores públicos e empresários. Após quatro meses de trabalho, a partir de uma investigação de tráfico de drogas e exploração da prostituição, a polícia verificou que a quadrilha usava um prostíbulo badalado na capital para lavar o dinheiro que obtinha como comissão ao ajudar a liberar recursos do BNDES para prefeituras e empresas privadas. O funcionamento da casa de prostituição era mantido com o pagamento de vantagens ilícitas a autoridades e servidores públicos, segundo a PF.

De acordo com a PF, a quadrilha era procurada por empresários do setor privado e servidores públicos para obter, com maior rapidez, a liberação de empréstimos oficiais no BNDES, de cujo Conselho de Administração Tosto é membro. Eles cobrariam entre 3% e 4% sobre o valor concedido a seus "clientes".

Investigação era sobre prostituição

A polícia confirmou o esquema em pelo menos dois recentes empréstimos liberados pelo banco: um de R$130 milhões para uma prefeitura do litoral paulista, e outro de R$220 milhões para a cadeia de lojas do setor de varejo. Mais um, de R$174 milhões, também está sendo alvo de investigação. Seriam beneficiadas as prefeituras de Praia Grande e Guarujá. A prefeitura de Praia Grande alegou que não tem contrato em vigor com o BNDES, e a de Guarujá informou que os contratos foram firmados diretamente com o banco, sem intermediações.

Também entre os presos está o diretor executivo de uma cadeia de lojas, Boris Bitelma Timoner, e o ex-integrante da Força Sindical João Pedro Moura. A direção da central sindical disse que não se pronunciaria sobre as denúncias ontem, mas afirmou que João Pedro não faz mais parte de seu quadro de dirigentes. No caso da cadeia de lojas, a polícia informou que a direção da empresa não tinha conhecimento do esquema montado pelo dirigente.

- Começamos a investigação pensando se tratar de tráfico de droga, mas outros crimes foram aparecendo, e descobrimos que a quadrilha desviava dinheiro do BNDES. É certo que alguns (dos presos) usavam sua influência para conseguir a liberação de empréstimos. Parte desse dinheiro, entre 3% e 4%, ficava com eles - disse o superintendente regional da PF, Jaber Saadi.

A relação entre o prostíbulo WE, um flat no Centro de São Paulo, e o esquema envolvendo dinheiro público começou a se estreitar quando os policiais descobriram que o dono do flat era também dono de uma construtora. Segundo a polícia, ele era o elo de uma das prefeituras com a quadrilha. Após o contato, o grupo contratava uma empresa de consultoria para elaborar o projeto que seria encaminhado ao BNDES. Era neste momento, segundo as investigações, que os valores eram superfaturados, e o excedente era embolsado pelos integrantes da quadrilha. A PF informou ainda que a empresa de consultoria emitia notas frias para justificar os empréstimos do BNDES.

Alegando sigilo, a PF não divulgou os nomes dos presos, mas as identidades de alguns acabaram sendo descobertas ao longo do dia. Os dez presos responderão por utilização indevida de recursos públicos, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Escritório de advogado: PF foi truculenta

Em nota, o escritório Leite, Tosto e Barros, que tem Ricardo Tosto como sócio, classificou a operação da PF como truculenta e irresponsável. Segundo a nota, a prisão de Tosto não encontra sustentação no estado democrático de direito. Tosto chegou algemado à sede da PF. "O escritório repele vigorosamente a acusação produzida contra um de seus sócios, o advogado Ricardo Tosto, e divulgada com espalhafato irresponsável pela Polícia Federal nesta quinta-feira. Não há o mais remoto fundamento nas imputações feitas", diz a nota, lembrando que Tosto tem endereço fixo e não possui antecedentes criminais.

O escritório alegou que as operações fraudulentas aconteceram antes de o advogado integrar o conselho do BNDES e que é uma "aberração" a associação de seu nome com prostituição e tráfico internacional de mulheres.