Título: Governo age para conter preços de arroz e trigo
Autor: Duarte, Patrícia; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 25/04/2008, Economia, p. 25

Ministério anuncia leilões semanais. Empresários e analistas criticam restrições à exportação

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. Preocupado com a escalada de preços dos alimentos, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse ontem que serão realizados leilões semanais de arroz, a partir de 5 de maio, com o objetivo de derrubar o preço no mercado interno, que chegou a R$31 a saca de 50 quilos. Já o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai injetar R$1,2 bilhão em crédito agrícola com foco especial para os produtores de trigo, além de postergar os prazos de vencimento de dívidas.

Após reunir-se com o setor privado, em especial representantes de indústria e distribuidoras, Stephanes disse ter conseguido o compromisso de que as empresas vão controlar seus estoques e evitar que haja desabastecimento. O resultado dos leilões será fundamental para decisões de restrição à exportação. A venda dos estoques começará com 55 mil toneladas, a R$28 a saca de 50kg de arroz tipo 1.

Ele disse que, em "caso extremo", poderá haver restrições às exportações do setor privado. Mas admitiu que ainda há espaço para vendas ao exterior. Contando com as cerca de 400 mil toneladas exportadas pelo governo este ano, o Brasil não prejudicaria o abastecimento interno se vendesse mais 600 mil a 1,1 milhão de toneladas. Os estoques reguladores públicos somam 1,2 milhão de toneladas de arroz, e o setor privado tem 1,8 milhão de toneladas.

- Nossa preocupação é que não passe desse limite (1,5 milhão de toneladas no ano) - disse Stephanes. - As exportações podem fluir, mas, se houver risco de desabastecimento, vamos tomar medidas.

"Querem tirar o pirulito de nossa boca"

Restringir exportações seria "um desastre", segundo o presidente da Federação das Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul, André Barbosa Barreto. O presidente da Câmara Setorial Nacional de Arroz, Francisco Schardong, foi ainda mais enfático:

- Querem tirar o pirulito de nossa boca.

Segundo João Márcio Castro, diretor do supermercado Princesa, a escassez de arroz no mercado interno contribuiu para a alta dos preços no último mês. O saco de 5kg saiu da faixa dos R$6 para a casa dos R$8 - numa alta de 33,3%, em média. Jaime Xavier, diretor do Zona Sul, disse os preços do arroz têm sofrido reajustes freqüentes, já tendo sido aumentados em cerca de 17% nos últimos 45 dias.

Já o presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José de Souza, disse que a procura por arroz na Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro (BGA-RJ) cresceu 50% em abril, o que elevou o preço do fardo de 30kg do grão em 48%, da faixa de R$35 a R$44 no meio do mês, e esta semana, a R$52, sem incluir o frete, que custa pelo menos R$3.

Especialistas não viram com bons olhos a idéia de taxar a exportação do arroz. Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), isso abriria um precedente para se aumentar a arrecadação do governo. Segundo Pierre Vilela, analista da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), a medida encareceria o produto. Para o economista José Carlos Hausknecht, da MB Agro, taxar a exportação seria um "tiro no pé":

- A curto prazo, resolve a questão dos preços. Mas somente a curto prazo.

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues criticou travas à exportação do arroz, mas disse não ver riscos de desabastecimento no país.

COLABORARAM Aguinaldo Novo e Vivian Pereira Nunes, do Globo Online