Título: Ata mostra preocupação do BC com a inflação
Autor: Duarte, Patrícia; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 25/04/2008, Economia, p. 25

Alta dos preços de alimentos e petróleo leva Copom a prever IPCA acima do centro da meta. Reajuste da gasolina já é cogitado

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O cenário inflacionário piorou bastante nas últimas semanas, e projeta-se que o IPCA ficará acima do centro da meta do governo, de 4,5%, em 2008 e 2009, segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. A reunião, semana passada, surpreendeu o mercado ao elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano. A grande preocupação do Banco Central (BC) ainda é o forte crescimento da demanda interna, que pressiona os preços, o que corrobora a avaliação no mercado de que a alta dos juros vai continuar.

Segundo a ata, o BC já contabiliza possíveis reajustes dos preços de gasolina e gás de botijão este ano. O Copom manteve a projeção de preços estáveis de combustíveis em 2008, mas ressaltou que a alta do petróleo - que encostou em US$120 esta semana - alimenta a probabilidade de um "cenário alternativo", de alta. O texto também citou, sem se aprofundar, a alta dos alimentos. Cita ainda gastos públicos e expansão do crédito como fatores que pressionam a inflação.

Analistas projetam Selic de até 13,25% em dezembro

O tom da ata dividiu o mercado. Alguns esperavam um BC muito mais alarmado. E, enquanto concorda-se que os aumentos serão fortes mas a curto prazo, as apostas sobre magnitude divergem. As previsões vão de 12,25% até mais de 13% ao ano no fim de 2008.

- O cenário macroeconômico é incerto ainda - disse a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif, para quem a Selic fechará o ano a 13,25%.

- Esta é a melhor hora de o BC falar grosso - disse Octávio de Barros, diretor de Pesquisas Econômicas do Bradesco.

Ontem, na reunião do Conselho Político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a alta dos alimentos pode ter impacto na inflação. Mas, segundo um participante, evitou polêmica com a decisão do Copom.

COLABOROU Cristiane Jungblut

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