Título: Desemprego em março surpreende e é o menor para o mês desde 2002
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 25/04/2008, Economia, p. 28

Taxa medida pelo IBGE recuou de 8,7% para 8,6%. Formalidade é recorde

O número de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país recuou ligeiramente em março, quando a taxa de desocupação ficou em 8,6%, após ter passado de 8%, em janeiro, para 8,7%, em fevereiro. O resultado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o melhor para o mês desde 2002, quando teve início a nova série da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Em março do ano passado, a taxa foi de 10,1% e cresceu em relação a fevereiro (9,9%) e janeiro (9,3%).

- A estabilidade da taxa foi uma surpresa, pois a expectativa era de que houvesse mais um mês de alta, como sempre ocorre no início do ano. Os resultados indicam que 2008 será bastante favorável para o mercado de trabalho e que o desemprego deve cair já no primeiro semestre - disse o gerente da PME, Cimar Azeredo.

Os setores que mais contrataram foram o de construção (4,2%) e intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados a empresas (1,1%).

A taxa de formalidade do mercado de trabalho bateu novo recorde, chegando a 51,6%. Isso significa que, dos 21,2 milhões de trabalhadores brasileiros, 10,9 milhões tinham carteira assinada, eram funcionários públicos estatutários ou militares. Em fevereiro, a taxa foi de 51,5%. Considerando ainda os funcionários públicos contratados pelo regime da CLT, os trabalhadores formais totalizam 54,6% da população ocupada, mesmo resultado do mês anterior.

Frente a fevereiro, rendimento caiu 0,6%

Azeredo destacou que o avanço da formalização ocorre de forma gradual e sustentada desde agosto de 2003, quando apenas 38,6% dos trabalhadores do setor privado tinham carteira assinada. Atualmente, 43,9% estão nessa situação, 749 mil a mais do que em março de 2007.

Para o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, o aumento da formalidade é conseqüência do crescimento econômico sustentado do país, da forte fiscalização realizada pelo Ministério do Trabalho e da formalização de pequenas empresas atraídas pelo modelo simplificado de tributação (Simples), implementado em 2007.

O rendimento médio real do trabalhador brasileiro somou R$1.188 em março, uma queda de 0,6% na comparação com o mês anterior. A piora foi determinada pelo setor industrial, cujo salário médio registrou R$1.171, valor 6,6% menor que o de fevereiro de 2008.

Para Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a queda do rendimento pode "abreviar o processo de aumento de juros" iniciado pelo Banco Central na semana passada, quando elevou a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual:

- O BC manifestou preocupação com o avanço da renda, o que estaria impulsionando o consumo e pressionando a inflação. O resultado da PME deve enfraquecer esses receios.

Sobre março do ano passado, houve um avanço de 2% no rendimento do brasileiro. Apesar dessa melhora, o trabalhador ainda não recuperou as perdas acumuladas desde março de 2002, quando o salário era de R$1.219.