Título: Lula sobre Dilma: ser boa gerente não é tudo
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Fonte: O Globo, 28/04/2008, O País, p. 3

Presidente diz que candidatos a presidente precisam ter também habilidade política

BRASÍLIA. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, companhia constante do presidente Lula nos palanques do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nos últimos meses, é uma extraordinária gerente mas isso não lhe garante passaporte direto para a sucessão presidencial de 2010. Foi o que disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista concedida aos jornais do grupo Diários Associados e publicada ontem. Lula disse ainda que o governo terá apenas um candidato nas eleições de 2010, mesmo que os partidos da base lancem mais de um nome, e que vai trabalhar para fazer seu sucessor. Voltou a condenar a idéia do terceiro mandato, dizendo que é "obsceno para a democracia". E também refutou versão de que a Presidência da República bisbilhotou a vida do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher:

- Se eu fosse fazer um dossiê, não seria da dona Ruth.

A seguir, trechos da entrevista:

DILMA: "Se você perguntar das qualidades da Dilma, vou dizer para você uma coisa: existem raríssimas pessoas no Brasil com a capacidade gerencial da companheira Dilma Rousseff. Rarísssimas. (...) Agora, entre ser uma figura extraordinária para gerenciar e ser candidata à Presidência é uma outra conversa, porque aí entra um ingrediente chamado política, que exige outras credenciais."

OPOSIÇÃO X GOVERNO: "Terminada a eleição para as prefeituras, a partir do ano que vem todo mundo tem que saber claramente que vamos começar a campanha de 2010. Os partidos precisarão começar a sair a campo, porque se não fica uma situação desigual. O PSDB tem dois candidatos já postos, o (José) Serra (governador de São Paulo) e o Aécio (Neves, governador de Minas Gerais). Não se sabe se o (Geraldo) Alckmin quer ser ou não. a oposição não pode ficar nadando na praia sozinha. É preciso colocar mais gente nessa praia, e acho que os partidos (aliados) vão colocar."

CANDIDATO DA BASE: "Vocês não me verão nervoso porque os partidos (da base) terão candidato próprio (em 2010). Obviamente, se não for possível construir uma candidatura única da base, pode ficar certo de que o governo terá candidato."

AÉCIO: "Todo mundo sabe que o Aécio é um político hábil, inteligente. Obviamente que o Aécio antes de qualquer coisa tem que enfrentar os obstáculos internos. (...) É preciso primeiro saber se o PMDB quer. (...) Primeiro tem o confronto interno, que não é uma coisa fácil. E certamente o Aécio não vai correr do jogo antes de o jogo ser jogado. Ele vai ter que disputar. Se ele perde e depois tenta sair, aí realmente é um tiro pela culatra."

ELEIÇÃO/BELO HORIZONTE: "Cada partido, na sua cidade e no seu estado, tem que determinar a política que ele entende que seja mais conveniente. O que estou entendendo? Que é conveniente para o Aécio fazer a aliança com o Fernando Pimentel (prefeito de Belo Horizonte) e é conveniente para o Pimentel fazer a aliança com o Aécio. Como o Aécio tem o controle do PSDB e o Pimentel mostrou ter o controle do PT, os dois fizeram aliança."

TERCEIRO MANDATO: "Propor o terceiro mandato é tão pernicioso quanto foi proporem o segundo. (...) Por que aconteceu o segundo? Por causa da vaidade de quem está no poder. Eu acho que é impensável, se você quiser consolidar a democracia no Brasil, pensar em terceiro mandato. Porque hoje você pensa em terceiro mandato, amanhã pensa em quarto mandato, daqui a pouco está pensando em quinto mandato. E isso é uma coisa obscena para a sustentabilidade da democracia no Brasil."

DOSSIÊ: "Achar que este governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth (Cardoso, ex-primeira-dama), contra o Fernando Henrique Cardoso, é não ter dimensão de que, se eu quisesse fazer dossiê, teria feito em 2005, quando fui triturado por adversários que vocês conhecem. E que certamente, se investigados, teriam muitas coisas(...) Eu posso ter todos os defeitos, mas se tem uma coisa que eu aprendi na minha vida é ter uma relação política leal. Se eu fosse fazer um dossiê, não seria da dona Ruth."

DOSSIÊ/PUNIÇÃO: "Se se provar que alguém manipulou equivocadamente, esse alguém terá que ser punido. Essa é a prática. A única coisa com que fico triste é alguém tentar passar a idéia de que o governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth. Realmente, não me cabe na cabeça."

CARTÃO CORPORATIVO: "Não diria que é hipócrita, diria que é pequeno (o debate). Vou esperar a CPI terminar e instituir uma diária. Ou verba de representação."

SIGILO DOS GASTOS: "Quando eu deixar a Presidência, no dia primeiro de janeiro de 2011, os meus dados serão dados públicos."