Título: Mãos à obra
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 28/04/2008, Economia, p. 16
Mesmo com as taxas de juros em alta, os investimentos já em andamento garantirão grande número de novos empregos se a mão-de-obra estiver preparada para aproveitá-los. O Estado do Rio resolveu correr contra o tempo, reestruturando os currículos de seus cursos profissionalizantes com base nas necessidades das empresas, e espera formar cem mil técnicos em 2009.
Alguns cursos já estão sintonizados com o mercado de trabalho. Dificilmente fica desempregado quem passa bem pelo centro de polímeros (voltado para a cadeia produtiva petroquímica) de Saracuruna, distrito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo o secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Alexandre Cardoso, o ensino técnico deve ser montado em módulos, para que até aqueles que o abandonam no meio do caminho assegurem alguma formação. No caso de oficina mecânica, por exemplo, em um período de 90 dias o aluno teria formação em freios ABS, em outros 180 dias se aprofundaria em injeção eletrônica dos veículos, e assim por diante.
Esses programas de formação profissional têm de se preocupar ainda com as pessoas de pouca instrução que podem ser empregadas na construção civil, obedecendo peculiaridades locais. Para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Rocinha, concluiu-se que era melhor formar e contratar pedreiras do que pedreiros. Com obras dentro das casas, a escolha de pedreiras evita conflitos conjugais quando os maridos saem para trabalhar e deixam suas mulheres acompanhando o serviço.
O que alinhavará esses cursos é o ensino à distância, com base no acesso à internet por banda larga. O secretário garante que em agosto a banda larga sem fio, para uso público, chegará à Baixada Fluminense. Em junho, estará disponível na orla de Copacabana.
A confusão sobre a existência ou não de um gigantesco reservatório de petróleo na área chamada de Pão de Açúcar, na Bacia de Santos, ocorreu no momento em que o diretor geral da ANP (a agência reguladora do setor), Haroldo Lima, justificava sua posição sobre se seria conveniente mudar a legislação que rege hoje as concessões nessa área. Como ex-deputado, Haroldo Lima dizia que era contrário a se alterar a lei porque o Congresso, além de moroso na avaliação desses temas, poderia seguir por outro caminho que, em vez de ajudar, acabaria complicando o processo. Ele até se mostrou mais favorável ao regime de partilha de produção, mas frisou que "o avião já estava em pleno vôo" e agora seria preferível manter o modelo de concessões, aperfeiçoado para que as participações governamentais se beneficiem mais da alta dos preços do petróleo e do grande volume de reservas possivelmente existente na Bacia de Santos (e foi aí que o diretor citou os números que causaram o bafafá).
É curioso que ele tenha saído tão desgastado do episódio quando exatamente sua posição sobre o que fazer daqui para a frente deixou exultantes muitos especialistas que o assistiam, entre os quais seu antecessor na ANP, o embaixador Sebastião do Rego Barros. Como integrante da cúpula do PCdoB, Haroldo poderia estar entre os xiitas que preferiam ver o setor de petróleo completamente estatizado.
O diretor geral da ANP se declarou também favorável à conclusão da Oitava Rodada de Licitações, de 2006, que ficou no meio do caminho por causa de disputas judiciais. Segundo ele, alguns blocos licitados ou a licitar estão apenas na "franja" do pré-sal e, portanto, nem chegam a ser objeto da discussão sobre o que acontecerá com os futuros investimentos nessa área promissora.
Alguns dias depois da controvérsia, a diretora da Petrobras Graça Foster defendeu a continuidade das rodadas de licitações - costumava-se dizer que a Petrobras estaria contra esse modelo.
Pena que todas essas declarações se perderam no noticiário.
Os bancos garantem que, depois dessa crise financeira lá fora, o spread que cobram nos financiamentos para empresas no Brasil está agora bem próximo dos que vigoram no mercado internacional. O spread é a diferença entre o custo de captação dos recursos e a taxa de juros que o sistema financeiro cobra para emprestar.
Os juros nominais aqui continuam bem acima das taxas no exterior porque também o rendimento oferecido no Brasil aos investidores é bem mais alto do que o existente no mercado internacional. Mas para as pessoas físicas a situação não mudou muito: os spreads bancários permanecem estratosféricos.
A Aliança de Navegação, do grupo Hamburg Süd, está negociando com os estaleiros de German Efromovitch a construção de navios no Brasil. Além da necessidade de renovar sua frota, a encomenda de navios a estaleiros no Brasil é que possibilita ao armador alugar (afretar, no jargão técnico) temporariamente embarcações no exterior.
A venda da companhia para a Cosan foi a solução que mais agradou a dirigentes e empregados da Esso no Brasil, pois eles esperam que a espinha dorsal da empresa seja preservada, o que provavelmente não aconteceria se o comprador fosse a Petrobras.