Título: José Alencar volta a criticar juros
Autor:
Fonte: O Globo, 22/04/2008, Economia, p. A17
Em Outro Preto, o presidente da República em exercício contesta orientação do BC.
Minas Gerais
O presidente da República em exercício, José Alencar, fez duras críticas, ontem, em relação à decisão do Banco Central que aumentou a taxa básica de juros. Para Alencar, a alta de juros foi desnecessária. Chegou a classificar a política monetária de "contrária aos interesses nacionais".
As declarações foram dadas durante a cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, a mais alta e importante condecoração concedida pelo governo estadual de Minas Gerais, onde o vice-presidente foi o orador.
¿ A rubrica mais pesada do orçamento de despesa da União é a relativa aos juros com que rolamos nossa dívida ¿ relatou o presidente em exercício. ¿ E esses juros hoje, do ponto de vista real, são seis vezes superiores à taxa básica média real do mundo. E o Brasil é um país de primeiro mundo, não pode ser tratado dessa maneira.
Para José Alencar, os juros deveriam cair conforme padrão internacional para que o Brasil chegue à média praticada pelo resto do mundo desenvolvido.
¿ Isso, do ponto de vista nominal, seria no máximo uns 5%, porque a taxa básica real média do mundo é menos de 1% ¿ explicou.
Cenário ideal está longe
Para o vice-presidente, o patamar ideal ainda está longe de ser alcançado. Apesar de elogiar Lula, Alencar afirmou que o presidente erra ao conduzir a política monetária.
¿ As coisas não são fáceis. Eu acho que um esforço muito grande tem sido feito ¿ garantiu Alencar. ¿ O presidente Lula tem dado um exemplo de trabalho inigualável. Inclusive no campo das relações internacionais. O presidente é referendado como um homem sério e de absoluta segurança no trato da coisa pública e das questões ligadas à economia. O único erro que eu acho e bato contra é a política monetária.
Durante discurso, o vice-presidente foi enfático e fez uma correlação da situação econômica com o herói mineiro.
¿ Assim como ontem Tiradentes via sangrar de nossas Minas Gerais o ouro em cujo reluzir se poderia iluminar o futuro de nossa gente sofrida e valente ¿ declarou. ¿ Vejo hoje nos bilhões e bilhões repassados ao sistema financeiro, o mercado, o seqüestro de nossas esperanças, o adiamento de nossas aspirações legítimas e urgentes.
Em entrevista depois da cerimônia, o vice lembrou a economista Maria da Conceição Tavares que, segundo Alencar, "taxou a política monetária de imbecil".
¿ Ainda não cheguei a esse adjetivo, mas ao lado dela eu estarei bem acompanhado, porque é uma das que mais conhece de economia ¿ reiterou Alencar.
Resultado do Copom
Na quarta-feira passada, o Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) surpreendeu a maioria dos analistas do mercado financeiro ao aumentar a taxa Selic de 11,25% para 11,75% ao ano. A maioria dos economistas esperava um aumento menor, de 0,25 ponto percentual.
O BC, no entanto, anunciou, por meio de nota, que optou por "realizar, de imediato, parte relevante do movimento (de aumento da taxa básica de juros" a fim de reduzir o risco inflacionário.