Título: FMI agirá contra crise de alimentos
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Fonte: O Globo, 22/04/2008, Economia, p. A18
Organismo promete revisar sistema de crédito para "colocar comida na mesa dos pobres"
"O FMI está disposto a proporcionar rapidamente um apoio financeiro aos países afetados pela crise de alimentos a fim de fazer frente a suas necessidades de financiamento. E estamos dispostos a revisar nossas condições de crédito para adaptá-las a este tipo de questão", assegurou o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, em artigo publicado ontem no jornal inglês Financial Times..
A crise dos preços dos alimentos tem sido motivo de preocupações das principais entidades financeiras e líderes mundiais nas últimas semanas. "Não se pode esquecer que, para alimentar sua população os Estados dependem da liberdade de comércio. Mas algumas decisões tomadas em nível nacional, como a de limitar a exportação de produtos alimentícios, têm efeitos devastadores em nível mundial", escreveu o diretor do FMI no artigo.
Para Strauss-Kahn, levar Doha a bom termo reduziria as barreiras alfandegárias, as distorções de competição e favoreceria o comércio agrícola. O executivo afirmou que a conclusão da Rodada Doha, para liberalização do comércio mundial, permitirá lutar contra o encarecimento dos produtos agrícolas.
Entraves às negociações
¿ Temos a responsabilidade moral de colocar comida na mesa dos pobres ¿ destacou o executivo.
O FMI é criticado pelas rígidas condições que impõe aos países aos quais empresta dinheiro.
Um dos entraves às negociações de Doha diz respeito justamente à liberalização dos intercâmbios agrícolas. Os países pobres querem que os ricos eliminem os subsídios a seus produtores, e os ricos querem que os pobres derrubem as tarifas de produtos industrializados.
Strauss-Kahn recorda que os "preços internacionais do arroz aumentaram mais de 50% desde o início do ano, como os do resto dos produtos alimentícios estão em clara alta".
Para fazer frente a este desafio, o diretor do FMI defende um acordo concertado em escala mundial. Ontem, por exemplo, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, elogiou a vontade do primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, de fazer figurar a crise dos alimentos na ordem do dia da próxima cúpula do G8, em julho.
¿ Acolho com satisfação a intenção do primeiro-ministro Fukuda de colocar firmemente a crise alimentar na ordem do dia da cúpula ¿ declarou Zoellick.
O Japão preside neste ano o G8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia), cujos chefes de Estado e de Governo devem se reunir em julho na ilha de Hokkaido.
Para contra-atacar a disparada dos preços dos produtos agrícolas, que ameaça a estabilidade dos países pobres, o Banco Mundial convocou um esforço concertado e em escala internacional em sua assembléia de 12 e 13 de abril em Washington.
A duplicação dos preços dos alimentos nos últimos três anos ameaça com submergir mais profundamente na pobreza quase 100 milhões de africanos de baixos rendimentos, afirma o Banco Mundial, que propôs a implementação de uma política tão ambiciosa como o New Deal do presidente Franklin Delano Roosevelt depois da crise de 1929.
A Rodada Doha, iniciada em 2001, deveria ter sido concluída em 2004, mas divergências entre os países pobres e ricos sobre subsídios e tributação da agricultura, bens e serviços não foram superadas.