Título: PF já sabe quem fez dossiê
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 26/04/2008, O País, p. 3
Servidores da Casa Civil depõem e detalham montagem do documento; polícia mantém sigilo
APolícia Federal interrogou ontem e anteontem dois dos seis servidores da Casa Civil encarregados de montar o dossiê com gastos com cartão corporativo e contas tipo B feitos durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de firmar um acordo de confidencialidade com o delegado Sérgio Menezes, que conduz o inquérito, os dois servidores do Palácio do Planalto fizeram importantes revelações.
Para a polícia, com o testemunho dos dois, o caso está praticamente esclarecido. O minucioso relato dos dois servidores permitiria ao delegado Menezes traçar o caminho percorrido pelo dossiê, da extração de informações no banco de dados da Casa Civil até as páginas da imprensa. A Polícia Federal manteve em sigilo, porém, o que disseram os dois servidores, mas o depoimento deles ajudou a esclarecer quem produziu o dossiê - que o governo prefere chamar de banco de dados - e quem teria vazado as informações para a imprensa.
Polícia também vai interrogar Dilma
Até o fim do inquérito, a Polícia Federal deverá interrogar ainda os demais servidores e os chefes deles, inclusive a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
- Os depoimentos foram muito bons. Colaboraram demais - disse ao GLOBO um dos investigadores do caso.
Os dois servidores estavam na ante-sala do ambiente dos computadores de onde o dossiê teria sido extraído. E, a partir dali, teriam testemunhado a movimentação que, mais tarde, resultaria no vazamento para a imprensa de dados protegidos por sigilo. Segundo palavras de um dos investigadores, os servidores estavam na ante-sala onde "tudo aconteceu".
Perícia deve confirmar suspeitas
Para colaborar com as investigações, os dois servidores pediram para a PF não divulgar os nomes deles. A polícia cumpriu o acordo. No início da noite, a assessoria de imprensa da instituição informou que Menezes havia interrogado pelo menos dois servidores da Casa Civil, mas não revelou quem são e nem o que disseram.
A partir de agora, Sérgio Menezes deverá interrogar os demais servidores que participaram da montagem do banco de dados sobre o cartão corporativo. Numa segunda etapa, a polícia chamará para depor os chefes desses servidores, entre eles a ministra Dilma e a secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.
A Polícia Federal abriu o inquérito no dia 7 deste mês para investigar o vazamento do dossiê dos gastos com cartão corporativo em nome do ex-presidente Fernando Henrique e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Os depoimentos dos servidores da Casa Civil serão confrontados com a perícia que está sendo feita sobre 13 computadores recolhidos na Casa Civil. A expectativa dos investigadores é que os demais depoimentos e a análise técnica dos computadores sirvam apenas para confirmar as conclusões iniciais.
O vazamento de informações é crime previsto no artigo 325 do Código Penal. O crime pode ser punido com até dois anos de prisão. O artigo prevê a punição também para quem, ainda que de forma indireta, contribua para a divulgação de dados protegidos por sigilo.