Título: cardápio de francês mais magro
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 27/04/2008, O Globo, p. 30

FERNEY VOLTAIRE (França). A dona-de-casa francesa Laurence Routier, que tem cinco filhos, mudou seus hábitos alimentares. Antes, uma vez por mês, ela fazia uma supercompra.

¿ Acabaram as grandes compras. Agora, compro no dia-a-dia ¿ disse.

Carne? Só na promoção. O marido trabalha em supermercado. Portanto, de preço de alimentos, a família entende. Francesa até a alma, ela e seus filhos adquiriram hábitos italianos: macarrão virou prato corriqueiro. É mais barato. Era, pelo menos: o preço do macarrão disparou na França no último mês. Com ar grave, Laurence conclui:

¿ Nós, franceses, estamos afundando.

Com inflação recorde em março ¿ 3,2 % em 12 meses, a maior taxa em 17 anos ¿, o preço dos alimentos em disparada, salários achatados e um poder de compra reduzido, os franceses, pela primeira vez em anos, estão enchendo menos o carrinho dos supermercados. Um fenômeno que especialistas vêm detectando desde o início deste ano. Em março, o preço dos alimentos subiu 4,9%, índice inédito, depois de aumentar 4,7% em fevereiro e 4% em janeiro. Um setor está ganhando com isso: lojas de maxidescontos, que viram as vendas subirem 0,5% em janeiro, depois de dois anos de estagnação.

A rede Carrefour constatou a baixa nas vendas e reagiu rapidamente. O grupo lançou na semana passada um ¿plano poder de compra¿: a cada semana, até o fim do ano, vai deduzir o imposto sobre valor agregado (TVA) do preço de milhares de produtos. E foi além: como o salário do francês ficou achatado também pela alta do preço do petróleo, vai dar um bônus de compra no valor de 3 para quem abastecer seus veículos com pelo menos 30 litros de gasolina nos postos da rede.

¿ Estou sendo obrigada a mudar meus hábitos. Não me deixo mais tentar por tomate-cereja (mais nobre). Agora, compro tomate normal. Acabo de comprar 40 de alimentos. Olhe só: quase não tenho nada! ¿ queixou-se Florence, uma secretária mãe de dois filhos.

Sendo obrigados a gastar mais com comida, os franceses fecharam as carteiras também para roupas. Em março, o consumo no segmento caiu 8% em relação ao mesmo mês do ano passado. O crescimento neste primeiro trimestre vai ser negativo.

¿ Constatamos uma verdadeira mudança. Há o sentimento geral de que a situação está se depreciando ¿ diz Franck Delpal, economista do Instituto Francês da Moda (IFM).

Até o presidente Nicolas Sarkozy se queixou do preço do presunto na quinta-feira ¿ como se freqüentasse supermercados ¿, em sua mais longa entrevista à imprensa, para explicar por que a França não vai bem. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 469 palavras Edição: 1 Página: 30 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno

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