Título: Supertele: crescer no exterior é sonho distante
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 27/04/2008, Economia, p. 35

SÃO PAULO. O sonho de uma multinacional brasileira de telecomunicações, acalentado por setores do governo favoráveis à compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (antiga Telemar), não deve se realizar tão cedo, segundo analistas do mercado. Primeiro, porque a complexidade da integração das duas operadoras, que na sexta-feira assinaram os documentos para criar uma supertele, não deve permitir que a nova empresa arrisque qualquer movimento imediato no sentido de se internacionalizar. Também porque o mercado latino-americano, alvo natural para a supertele, está praticamente dividido entre a espanhola Telefónica e o grupo do mexicano Carlos Slim, dono da Telmex e da América Móvil, restando poucos ativos no setor.

No Brasil, a Telefónica tem a operação de telefonia fixa em São Paulo. Os mexicanos são donos da Embratel, da Claro e de uma fatia na Net.

O presidente da Oi e da futura supertele, Luiz Eduardo Falco, já revelou que a empresa tem planos de expansão para países de língua portuguesa e vizinhos latino-americanos.

¿ Não acredito em qualquer movimento, pelo menos nos próximos dois anos, porque haverá muitas ações internas para a integração ¿ diz Francisco Molmar, consultor sênior da Frost & Sullivan.

Novas tecnologias são oportunidade na AL

Superada essa etapa, sim, a nova empresa deve passar a analisar oportunidades de expansão para outros países. E na América Latina as oportunidades são bastante restritas: alguns países da América Central e a Colômbia, onde atua a empresa de telefonia móvel Millicom, do grupo sueco Kinnevic, seriam mercados onde ainda há operações e infra-estrutura para aquisições, avalia a consultoria A.T. Kearney.

A Telmex, lembra Molmar, para entrar na Colômbia recentemente, teve de comprar pequenas empresas de TV por assinatura, e só agora começará a oferecer serviços de voz, cabo e vídeo no país:

¿ Licitações de novas tecnologias, principalmente móveis, são oportunidades no mercado latino-americano.

Arthur Barrionuevo, professor de Concorrência e Regulação da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), concorda que a porta de entrada na região passa por futuros leilões de tecnologias como Wi-Max/Wi-Fi. Mas faz uma ressalva:

¿ Mesmo assim, a supertele nacional seria uma GVT no Peru ou no México. Pode ser que num prazo mais longo essa situação seja diferente.

Por isso, a curto prazo, Molmar vê mais oportunidades para a supertele no mercado africano. Na África, observa ele, já atuam grandes empresas internacionais do setor, mas o mercado ainda é muito concentrado nos serviços de voz. Além disso, acrescenta, não há o nível de consolidação existente na América Latina:

¿ Por isso, ainda há espaço para aquisições lá. Na linha do tempo, eles estão entre três e quatro anos defasados. Por exemplo, só agora começam a massificar os serviços de banda larga, com a implantação de novas redes de geração mais avançadas. Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: Economia Tamanho: 486 palavras Edição: 1 Página: 35 Coluna: Seção: Caderno: Primeiro Caderno

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