Título: Ações das empresas caem na bolsa
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 26/04/2008, Economia, p. 30

Operação já era esperada pelo mercado. Reestruturação da Oi fica para depois

Apesar de analistas ainda não terem tido tempo para entender a fusão entre Oi e Brasil Telecom (BrT), a operação veio dentro do que era esperado. Prova disso, segundo especialistas, teria sido a maciça venda de ações da BrT e da Brasil Telecom Participações (Brt Part), sua controladora. O movimento seria uma ¿realização de lucros¿, ou seja, investidores embolsando os ganhos dos últimos meses com as ações. Além disso, o prêmio oferecido por ação foi considerado pequeno por analistas.

Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da BrT Part caíram 8,49%, para R$25, e os da BrT, 4,49%, para R$20. Os dois foram as maiores quedas do Ibovespa ¿ principal indicador da Bovespa ¿ ontem. As PN da Tele Norte Leste Participações (TNLP) caíram 3,10% e as da Telemar operadora recuaram 0,10%. O UBS reduziu, de ¿compra¿ para ¿neutra¿ a recomendação para as ações preferenciais de Oi e Brasil Telecom, justificando a forte valorização nos últimos meses. No ano, até a véspera, as ações PN da BrT subiam 22,23%. Já as da TNLP acumulavam 26,89%. O Ibovespa subiu 0,95%, para 65.187 pontos, e o dólar caiu 0,24%, a R$1,667.

Uma incerteza do mercado é sobre a finalidade do pagamento de dividendos extraordinários de R$3,896 bilhões, que irá descapitalizar a empresa no momento da aquisição da BrT. O valor sairá do seu caixa e será distribuído a seus acionistas minoritários e controladores.

Outra frustração pode estar no fato de que ainda não foi desta vez que a simplificação da estrutura acionária da Oi saiu. A empresa manterá o formato atual. Terá uma controladora, a Telemar Participações, de capital fechado e que comanda a TNLP. A TNLP tem ações negociadas e é controladora da Telemar operadora (Tmar) ¿ que, por sua vez, também tem ações no mercado e será a futura dona da Brasil Telecom.

Isso significa que os cinco diferentes tipos de ações da Telemar continuarão sendo negociados. Já as da Brasil Telecom ¿ que deve ter o capital fechado ¿ receberão, em troca, ações da Telemar operadora. Cada ação ordinária (ON, com voto) da BrT Part passará a ser representada por 0,50 ação da Telemar. Já os detentores de preferenciais da BrT Part receberão 0,07 ação ON e 0,23 ação PN da Tmar por papel da BrT Part.

O investidor que preferir poderá vender até um terço de suas ações preferenciais, ao preço de R$30,47 por ação da BrT Part e R$23,42 por ação da BrT. Se a adesão for baixa, a parcela aceita pela Telemar por investidor pode aumentar. Essa oferta é voluntária. A Telemar fará também uma oferta pelas ações ON da BrT e da BrT Part, a título de tag along ¿ extensão aos acionistas minoritários de 80% do valor pago aos controladores da empresa comprada pelo bloco de controle, obrigada por lei no caso das ONs. Cada ON da BrT Part será comprada por R$57,85, e da BrT, por R$54,31.

Para Eduardo Roche, gerente de análise da Modal Asset, o risco de a operação não ser aprovada seria alto se a Telemar vinculasse a troca de ações à sua reestruturação, que deve ficar para o futuro. Em 2006, a Telemar tentou trocar ações PN por ordinárias, mas a relação de troca foi rejeitada pelos acionistas. Depois, a empresa ofereceu R$35,09 por ação PN e, em outubro de 2007, fez sua terceira tentativa, a R$45 por ação, mas a adesão mínima, de dois terços em circulação, não foi alcançada.

Agora, o prêmio por ação também é considerado pequeno, tanto na troca quanto na venda das ações, estimado entre 2% e 3%, segundo relatório da corretora Ativa. No entanto, como apenas a oferta pelas ações ON é obrigatória, o baixo preço não impedirá a operação. A legislação impede o fechamento de capital de empresas de telefonia com pagamento em dinheiro, não com troca de ações.