Título: Oi: nascida na polêmica
Autor: Barbosa, Flávia; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 26/04/2008, Economia, p. 31
Consórcio chegou a ser chamado de `telegangue¿
Em julho de 1998, no leilão de privatização do Sistema Telebrás, o consórcio Telemar levou a Tele Norte Leste. O consórcio era então formado por Andrade Gutierrez (de Sérgio Andrade), La Fonte (de Carlos Jereissati), Inepar (grupo paranaense de infra-estrutura), Macal (do empresário Antônio Dias Leite Neto e da GP, de Jorge Paulo Lemann), fundos de pensão e seguradoras Brasil Veículos e Aliança do Brasil (ambas com participação do Banco do Brasil).
Os fundos de pensão entraram via Fiago, uma empresa arrumada de última hora que também abrigou a La Fonte, que não tinha se pré-qualificado para o leilão. A Tele Norte Leste ¿ que logo depois virou Telemar e, hoje, chama-se Oi ¿ era formada pela Telerj e por outras 15 companhias de Sudeste e Nordeste. Depois, a Telerj incorporou as outras empresas.
Vieram à tona conversas sobre as articulações para o leilão que foram grampeadas. Nelas, o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, referiu-se ao consórcio como ¿telegangue¿. Soube-se que o consórcio fora articulado pelo governo apenas para fazer número, mas, por um imprevisto, saiu vencedor. O governo contava com a BellSouth para fazer um lance pela Telesp, a primeira a ser vendida, mas a americana não apareceu. Então, valeu a proposta da Telefónica. Com isso, a oferta da Telefónica pela segunda empresa do dia, a Tele Centro Sul (hoje Brasil Telecom), foi invalidada, porque quem levasse uma fixa não poderia disputar outra. A Tele Centro Sul sobrou para o consórcio entre Opportunity e Telecom Italia, único concorrente ¿ que foi excluído da disputa pela operadora que realmente queriam, a terceira do dia, a Tele Norte Leste, pela qual pagariam R$5 bilhões. O consórcio Telemar acabou levando a operadora por R$3,4 bilhões, um ágio de apenas 1%.
Terminado o leilão, o governo interveio, dizendo que o consórcio não tinha dinheiro nem operadora. O BNDES ficou com 25%. O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a investigar o processo de compra da operadora. Em 1999, a Inepar vendeu sua participação, concentrada na Lexpart, para o Opportunity. Dantas não poderia estar no bloco de controle, porque já estava na Brasil Telecom (BrT). A solução foi emitir debêntures da Lexpart, e estas é que foram compradas pelo Opportunity. A Anatel também determinou que o Opportunity não votasse no Conselho de Administração. O mesmo foi decidido para os fundos de pensão, porque também estavam na BrT.
A Telemar chegou a ser acionista do iG, vendido à BrT em 2004. Foi expandindo seus serviços para telefonia móvel, com a Oi (que em 2006 virou o nome do grupo) e a longa distância nacional e internacional. Também lançou o Velox, comprou a Pegasus, prestadora de serviços de telecomunicações, e lançou o provedor Oi Internet. Em outro ato que gerou polêmica, a Telemar comprou, em 2005, por R$2,5 milhões, 35% das ações da Gamecorp, que tinha entre os sócios Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula.