Título: Na BrT, um conflito à italiana
Autor: Barbosa, Flávia; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 26/04/2008, Economia, p. 31

Brigas entre Opportunity e Telecom Italia marcaram empresa

Na privatização da Telebrás, em 1998, o consórcio liderado pelo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, queria a Tele Norte Leste, mas acabou levando a Tele Centro Sul, depois batizada de Brasil Telecom (BrT). Ao longo dos anos, a empresa, que sempre investiu pesadamente em suas operações, acabou mais conhecida pelas brigas entre seus sócios.

O consórcio era formado por Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), outras fundações, Telecom Italia, Citigroup e Opportunity. Em 2000, vieram à tona as desavenças. Telecom Italia e Opportunity divergiram sobre o valor da compra da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), da Telefónica. O Opportunity queria pagar menos e desconfiava do fato de a Telecom Italia aceitar desembolsar mais. Esta dizia que a Telefónica só fecharia o negócio por um valor maior. Em julho do mesmo ano, os fundos de pensão entraram na Justiça contra o Opportunity, que montara estruturas societárias complexas ¿ os fundos CVC, em que quase não colocava dinheiro, mas lhe garantiam o poder de gestão. O dinheiro era dos fundos e do Citigroup.

Em 2002, por questões regulatórias, a Telecom Italia teve de se afastar da BrT para lançar no Brasil a TIM. A empresa transferiu metade de suas ações com direito a voto na BrT ao Opportunity, com a possibilidade de recomprá-las. Mas, no mesmo ano, a BrT comprou licenças de celular. Com isso, TIM e BrT teriam operações móveis em áreas iguais, o que era proibido. Em 2003, quando a Telecom Italia tentou voltar à BrT, foi impedida na Justiça pelo Opportunity. Contrariados, os italianos recorreram à Justiça no Brasil e em Londres. Os fundos se aliaram à Telecom Italia, mas estavam presos ao Opportunity pelo CVC nacional. No mesmo ano, os fundos conseguiram destituir o Opportunity da gestão do CVC nacional.

Em 2004, a BrT enfrentou um escândalo: sob a gestão do Opportunity, contratara a Kroll para levantar informações sobre a Telecom Italia. O Opportunity alegou apurar possíveis irregularidades na compra da CRT. O episódio acabou respingando no então ministro Luiz Gushiken, quando apareceram, no meio dos documentos, mensagens de seu e-mail. O Opportunity também apareceu no mensalão, suspeito de abastecer as contas do publicitário Marcos Valério. Nos anos seguintes, foi a vez de a Telecom Italia entrar na berlinda. A mídia italiana publicou reportagens sobre investigações de que a empresa teria pagado propina a parlamentares e investigado concorrentes, membros da Kroll e jornalistas, inclusive no Brasil.

Em 2005, o Citi afastou o Opportunity do CVC estrangeiro. A Anatel aprovou a saída do Opportunity da gestão da BrT, e a Telecom Italia conseguiu autorização do governo para voltar ao controle. Em 2007, fundos e Citi compraram a parte dos italianos na BrT por US$515 milhões. O Opportunity ficou apenas com as participações acionárias. Nos negócios, a BrT lançou o portal BrTurbo e comprou várias empresas. Lançou a Brasil Telecom GSM, de celular, e assumiu o controle do iG.