Título: Compra da Esso não garante álcool barato
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 26/04/2008, Economia, p. 35

Cosan deve embolsar ganhos com sinergia, dizem especialistas

SÃO PAULO. Nada garante que os ganhos de sinergia que a Cosan - maior produtora de álcool do país - terá com a compra dos ativos de distribuição da Esso serão repassados para o consumidor na forma de preços menores nas bombas. A avaliação é do consultor Júlio Maria Borges, especialista do setor e diretor da Job Economia e Planejamento. Segundo ele, a empresa fez um investimento muito grande e terá de gerar caixa para recuperar os recursos desembolsados.

- É muito difícil acontecer uma redução de margens, e a Cosan tende a agir como as outras distribuidoras - afirma Borges, lembrando que as margens na distribuição já são baixas, em torno de 3%.

O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional dos Distribuidores de Combustíveis (Sindicom), Alizio Vaz, concorda que não há como assegurar preços menores ao consumidor.

- Foi feito um investimento muito elevado, e praticar preços incompatíveis com o retorno desse investimento não parece lógico - afirma.

Moody"s põe "rating" da Cosan em revisão

A grande diferença entre as margens na produção do etanol e nas vendas no varejo foi um dos fatores que levaram a agência de classificação de risco Moody"s a colocar, ontem, o rating (avaliação de risco) da Cosan em revisão, para possível rebaixamento. De acordo com o vice-presidente sênior da agência, Soummo Mukherjee, a Cosan opera atualmente com margem na produção e venda de etanol de cerca de 30%, enquanto que as margens da Esso são de 3%, o que reduzirá a lucratividade da nova empresa para algo em torno de 10%.

Além disso, observa Mukherjee, a revisão se deve à necessidade de avaliar qual será o novo perfil de negócios da Cosan com a compra da Esso. A nova Cosan passará a ter 70% das suas receitas vindas da área de distribuição, e apenas 30% da produção e venda do etanol.

- A aquisição muda completamente a empresa e a revisão é para sabermos se o atual rating (Ba2) vale ainda ou não - diz Mukherjee.

Borges, da Job, observa que o setor sucroalcooleiro começa a viver uma terceira onda de fusões e aquisições. A chegada da petrolífera britânica BP, que anunciou anteontem a compra de 50% do controle da Tropical BioEnergia, é um exemplo desse movimento que tende a se intensificar.

- Haverá uma concentração forte nesse mercado, a exemplo do que aconteceu no setor de esmagamento de soja, onde poucos concentram o negócio - espera Borges, lembrando que há interesse de fundos de investimentos em fazer grandes aquisições na área de produção de etanol no Brasil.