Título: Governo tem arrecadação recorde no primeiro trimestre: R$161,7 bilhões
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 26/04/2008, Economia, p. 36

Resultado ocorre mesmo sem CPMF. Só IOF rende R$4,5 bilhões no ano

BRASÍLIA. Se, por um lado, o governo deixou de arrecadar cerca de R$3 bilhões por mês com o fim da cobrança da CPMF, por outro já conseguiu repor, mensalmente, quase R$1 bilhão apenas com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Este foi um dos fatores que contribuíram para que a arrecadação de impostos e contribuições federais registrasse mais um recorde. Em março, ela chegou a R$51,001 bilhões, maior valor já obtido no período, um crescimento real de 7,67% em relação a 2007.

No acumulado do ano, a arrecadação também é histórica. Já entraram nos cofres públicos R$161,741 bilhões em tributos: 12,97% acima de 2007 e um recorde para o primeiro trimestre.

Para compensar a perda de receita com o fim da CPMF, o governo fez cortes no Orçamento e modificou a cobrança de alguns tributos. O IOF, por exemplo, passou a incidir sobre praticamente todas as operações de crédito, o que elevou sua arrecadação em 142,3% no primeiro trimestre deste ano.

Segundo dados da Receita Federal, a arrecadação do IOF no primeiro trimestre chegou a R$4,495 bilhões. Deste total, R$3,735 bilhões equivalem às mudanças na legislação do imposto. Esse montante está R$2,43 bilhões acima do registrado no mesmo período do ano passado, ou seja, representa uma receita adicional de R$810 milhões por mês.

IR de empresas e imposto de importação também sobem

Mesmo com esse resultado e o ganho com o IOF, o coordenador-geral de previsão e análise da Receita, Raimundo Eloi de Carvalho, afirmou que é preciso esperar o comportamento da arrecadação nos próximos meses para saber se os recordes serão mantidos. Ele ressaltou que o ritmo de crescimento das receitas administradas, por exemplo, vem caindo. Elas subiram 20,49% em janeiro, 15,62% em fevereiro e 12,88% em março.

- No primeiro trimestre, o crescimento da arrecadação foi puxado pela alta lucratividade das empresas em 2007, pois elas tinham até março de 2008 para recolher tributos relativos ao ano passado. A arrecadação vai continuar subindo, mas não dá para dizer em que patamar ela vai ficar - disse Carvalho.

No primeiro trimestre, os recolhimentos do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) - que refletem os lucros das empresas - subiram 28,02% e 18,81%, respectivamente. Entre os setores que mais influenciaram esses resultados estão serviços financeiros, metalurgia, eletricidade, comércio atacadista e extração de minerais metálicos.

O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que está fortemente ligado à atividade econômica, também tem contribuído para o bom desempenho da arrecadação. O recolhimento do IPI do setor de automóveis, por exemplo, subiu 33,49% entre janeiro e março, graças, principalmente, ao aumento das vendas. Já o IPI-Outros, que inclui todos os setores econômicos com exceção do automotivo e de fumo, teve aumento de arrecadação de 17,53% no mesmo período.

Já o Imposto de Importação e o IPI vinculado às importações tiveram altas de 25,54% e 21,32%, respectivamente, no ano. Neste caso, o crescimento da arrecadação está ligado ao comportamento do câmbio, que estimula as compras das empresas nacionais no exterior.