Título: Cid Gomes culpa a mulher
Autor: Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 29/04/2008, O País, p. 4

Governador diz que primeira-dama pediu para levar a mãe na viagem à Europa

FORTALEZA. Na primeira vez em que se pronunciou sobre a viagem que fez à Europa, num jatinho fretado por R$388,5 mil, o governador Cid Gomes (PSB) não reconheceu ter cometido irregularidade por ter levado, além da primeira-dama Maria Célia Habib Gomes, a sogra, Pauline Carol Habib Moura, e as mulheres de um secretário e de um assessor que o acompanhavam a trabalho. O governador pediu desculpas, não pelo gesto, que insistiu não ser ilegal nem imoral, mas pelo constrangimento que a repercussão causou ao povo cearense. Ele disse não ter cometido qualquer ato que atente contra os princípios da boa administração.

- Essa questão não é ilegal, não é imoral. Não existe norma que discipline. Se eu cometi alguma falha - e por isso peço desculpa, sempre procurei agir de boa fé -, foi por ter atendido a um pedido de minha mulher para levar a sua mãe. Embora não exista norma, regra que impeça esse tipo de procedimento - afirmou Cid, que completou 45 anos domingo, acrescentando que a mulher tem 27 anos e uma ligação muito forte com a mãe.

Por várias vezes, durante a entrevista, realizada coincidentemente no Dia da Sogra, o governador repetiu que não cometeu ilegalidade e afirmou que ele mesmo já viajou em avião do governo do estado quando ainda não tinha sido eleito. Cid comparou a carona de jatinho a cinco países europeus dada à sogra à carona ao pai de um jornalista num carro da empresa jornalística (sem fazer distinção entre dinheiro público e privado). Para ele, o assunto está recebendo um destaque desproporcional na mídia.

- Sogra é inspiração de muitas piadas. Ficou uma coisa de deboche. Não me sinto bem. Sinto-me constrangido de ver o meu estado, que tenho a honra e o privilégio de governar, sendo motivo de deboche - afirmou.

Cid falou dois dias após retornar de uma viagem à Ásia. Ele leu uma nota oficial e não pretendia dar entrevista. Mas, diante de dezenas de jornalistas, respondeu às perguntas aparentando constrangimento.

O governador afirmou, lendo a nota, que as despesas pessoais da mãe de sua mulher e dos demais passageiros que não cumpriam missão oficial, bem como sua hospedagem, não foram pagas com dinheiro público. Ele disse acreditar que possa comprovar suas afirmações, mas não explicou como.

Cid Gomes negou ainda que tenha ficado hospedado em hotéis de luxo. O único, segundo ele, foi em Edimburgo, na Escócia. Afirmou também que a escolha dos locais de estadia é feita pela Casa Civil e não por ele. O Ministério Público está analisando representação protocolada por um deputado estadual que pede o ressarcimento ao erário do custo equivalente às passagens das três pessoas que não cumpriam agenda oficial, no valor de R$166,5 mil.

Cid Gomes disse que irá consultar os órgãos de controle do estado para saber se cometeu "algum ato que mereça reparos".

Sobre o convênio, no valor de R$2.356.557,36, com uma entidade presidida por Pauline Carol, o governador disse que só tomou conhecimento do fato domingo, quando assessores contaram que O GLOBO estava levantando informações sobre a questão. O contrato entre a Federação das Apaes e Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social foi assinado após licitação. Perguntado se considerava haver uma impropriedade pela proximidade familiar, ele devolveu a pergunta. Disse que vai apurar tudo, mas afirmou que o valor do convênio não é o maior entre os firmados com outras instituições:

- Digam-me qual foi a irregularidade que eu procurarei identificar, apurar, e punirei, se houver culpados.

O deputado Heitor Férrer (PDT) afirmou que irá solicitar ao Tribunal de Contas do Estado informações sobre os convênios entre a Federação das Apaes e governos anteriores.

Cid disse que não tinha obrigação de revelar os nomes dos passageiros que o acompanharam a San Martin, no Caribe, no ano passado. Segundo ele, o trecho entre a ilha caribenha e Washington, nos Estados Unidos, teve caráter oficial e foi custeado pelo estado. O fato de o percurso não ter sido publicado no Diário Oficial, afirmou, é responsabilidade da Casa Civil.