Título: MP investiga se casal Nardoni planeja viagem
Autor: Delphino, Plínio; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 29/04/2008, O País, p. 10

Rede de Portugal checou dados sobre crédito de Alexandre e Anna Carolina, assim como operadoras de celular

SÃO PAULO. O Ministério Público de São Paulo investiga a informação de que Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella, estariam planejando sair do estado ou do país, além de trocar seus números de celular. A polícia descobriu que uma rede de hotéis com sede em Portugal checou informações sobre o crédito financeiro do pai de Isabella, assassinada há exatamente um mês. Duas operadoras de celular também fizeram pesquisa sobre crédito do casal.

Policiais da 9ª DP (Carandiru) já estão enviando ofícios para a VG Brasil Atividades Hoteleiras Ltda, que tem 14 hotéis em Portugal e três no Nordeste, para a Vivo e para a Brasil Telecom, solicitando informações. A polícia quer saber se Alexandre fez reserva em alguma unidade.

A pesquisa sobre o nome Alexandre Nardoni por parte da VG Brasil foi feita em 23 de abril. Da Vivo, houve pesquisa sobre o pai de Isabella em 22 de abril e para Anna Carolina Jatobá em 19 de abril e 22 de abril. A Brasil Telecom também teria consultado o nome de Anna Carolina Jatobá em 17 de abril.

O casal pode viajar para onde quiser enquanto o inquérito policial não terminar. A única exigência é que os indiciados pela morte de Isabella avisem o delegado Calixto Calil Filho e informem o destino. Esta é a conclusão de especialistas em Direito Criminal consultados ontem.

¿ Viajar não é fugir ¿ disse Romualdo Sanchez Calvo Filho, presidente da Academia Paulista de Direito Criminal.

A situação do casal mudará se a denúncia do Ministério Público (MP) for aceita pelo juiz. A partir daí, Anna Carolina e Alexandre serão considerados réus do processo. E, para viajar, terão que pedir autorização judicial. Eles só serão proibidos de viajar, mesmo dentro do país, se a prisão temporária for expedida.

Denúncia deve ser oferecida na próxima segunda-feira

Um conjunto de provas e um relatório de cerca de 50 páginas devem servir de base para que o Ministério Público ofereça denúncia, na próxima segunda-feira, contra Alexandre e Anna Carolina. Eles devem ser denunciados ao juiz Mauricio Fossen, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Santana, como responsáveis pela morte de Isabella.

O promotor Francisco Cembranelli espera receber o inquérito ainda hoje dos delegados Calixto Calil Filho e Renata Pontes, da 9ª DP. A delegada estava concluindo o relatório final do inquérito, com os dados da simulação do crime, feita no domingo, e deverá pedir também a prisão preventiva do casal.

Um dos pontos mais marcantes da simulação foram os resíduos deixados pela rede de proteção na camiseta do dublê usado para ficar no lugar do assassino da criança. Ao jogar uma boneca pelo buraco feito com uma tesoura e uma faca, simulando ser Isabella, o dublê raspou os braços da camiseta na rede. As marcas deixadas pela fuligem e pelo náilon ficaram idênticas às da camiseta usadas por Alexandre no dia do crime.

Outras provas põem o casal como principais suspeitos: pequenas manchas de sangue de Isabella no carro da família; uma pegada no lençol em uma das camas dos irmãos de Isabella, próxima da janela de onde a menina foi atirada para a morte, é igual a marcas feitas com o chinelo usado por Alexandre no dia do crime; a faca e a tesoura (de cortar frango) utilizadas para cortar a rede foram encontradas pelos policiais na primeira perícia na pia da cozinha; a tesoura continha fiapos do náilon da rede de segurança da janela; uma fralda que estava de molho na área de serviço foi apreendida pela perícia e os especialistas detectaram sangue de Isabella.

A fralda, que seria do irmão mais novo da menina, no entendimento da polícia, teria sido usada para estancar o sangue de um corte que Isabella sofrera ainda dentro do carro. Isso explicaria, ainda segundo a polícia, por que não há manchas de sangue no trajeto entre o carro e a entrada do apartamento. Explicaria também por que, apesar de um corte na testa que teria sangrado muito, Isabella não tinha marcas de sangue no rosto.

Do Diário de S.Paulo