Título: Para Mantega, inflação não preocupa: sem feijãozinho no cálculo, IPCA cai
Autor: Damé, Luiza; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 30/04/2008, Economia, p. 26

IGP-M, que reajusta aluguel, salta para 9,81% em 12 meses, o maior desde 2005

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Citando o "feijãozinho que todo mundo come", o ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou ontem a aceleração da inflação. Em reunião com líderes aliados, reconheceu que a inflação brasileira está subindo, mas disse que a alta não é preocupante, porque está relacionada à pressão dos preços das commodities e dos alimentos no mundo. Segundo Mantega, se fosse retirado do cálculo o impacto de produtos como feijão, carne, leite e derivados, a previsão de inflação no Brasil cairia de 4,7% para 2,5% a 3% ao ano.

- De fato, a inflação está subindo. Subiu a previsão do IPCA para 2008, de 4,7%. Mas por que ela subiu? Subiu porque há uma inflação de commodities e de alimentos que se dá no mundo todo. Não é só no Brasil. Tanto é verdade que, se nós tirarmos daquele índice de 4,7%, que é a inflação total, o IPCA que abrange todos os produtos, apenas o feijão, o feijãozinho que todo mundo come, nós teríamos uma inflação de 4,4%, porque o feijão dá 0,3 (ponto percentual).

Considerando o IPCA de 4,7%, sem feijão e leite, o índice cairia para 4,1%; sem feijão, leite e carne, para 3,6% e, sem alimentos, para 2,4%, segundo cálculo apresentado por Mantega na reunião.

- A nossa inflação seria entre 2,5% e 3%. Perfeitamente controlada. A inflação seria bastante bem comportada. Outros emergentes estão com a inflação bem acima do Brasil.

O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), confirmou o impacto dos preços para o consumidor. Apesar de o IGP-M ter registrado alta de 0,69% este mês, com pequena desaceleração em relação à variação de 0,74% de março, o indicador de preços no varejo, medido pelo IPC, disparou. Passou de 0,19% no mês passado para 0,76%, com aumentos em cinco dos sete grupos de produtos pesquisados. No grupo alimentação, as frutas subiram 4,8% e o pão francês, refletindo pressão no atacado nos preços do trigo (12,11%) e da farinha de trigo (4,07%), teve alta de 7,03%. A carne bovina sobe há dois meses no atacado e começa a subir no varejo.

- A inflação de alimentos está viva. Uma parte das matérias-primas agrícolas está subindo (no atacado) e pressiona a indústria, que levará as altas ao varejo - disse o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros.

O IGP-M acumulado nos últimos 12 meses, que serve para reajustes de aluguéis e de tarifas de energia elétrica, passou de 9,10% no mês passado, para 9,81%, o maior patamar desde abril de 2005. No ano, o IGP-M acumula alta de 3,09%, quase três vezes mais que a variação de 1,15% no primeiro quadrimestre de 2007. O Índice de Preços no Atacado (IPA) recuou de 0,96%, em março, para 0,69%, graças a uma queda média de 1,19% nos produtos agrícolas.

Importar trigo dos EUA e do Canadá ficará mais fácil

O secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, disse ontem que o governo estuda novas medidas para aumentar a oferta de trigo no Brasil, caso a Argentina demore a retomar as exportações do produto. Entre as alternativas, Meziat destacou o aumento do volume de trigo que pode ser adquirido de fora do Mercosul sem imposto de importação e a retirada do adicional ao frete da Marinha Mercante, de 25%. A desoneração permitiria redução de 5% no preço pago pelos importadores.

- Vamos facilitar ainda mais as importações de trigo dos EUA e do Canadá - disse Meziat.

A cota atual de trigo com alíquota zero é de 1 milhão de toneladas até julho deste ano, quando a safra brasileira de trigo começa a ser colhida. Até a semana passada, o volume importado equivalia a 10% , ou seja, 100 mil toneladas. No entanto, nos últimos dias, ao perceberem que dificilmente haveria um acordo com a Argentina para garantir o abastecimento interno, os moinhos intensificaram suas encomendas e já foram utilizadas 800 mil toneladas.

COLABORARAM Eliane Oliveira e Ronaldo D"Ercole