Título: China quer alugar terra para lavoura no exterior
Autor: Gois, Chico de; Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 30/04/2008, Economia, p. 27
ONU e Banco Mundial pedem US$2,5 bi em ajuda para alimentos. Conab prevê safra recorde de cana no Brasil
LONDRES, BERNA (Suíça), BRASÍLIA e RIBEIRÃO PRETO (SP). A China pretende alugar terra para cultivar lavouras em outros países, inclusive na América Latina, revelou ontem o site da agência britânica BBC, citando o jornal "Beijing Morning". Segundo o jornal, o aumento dos preços dos alimentos estimulou o Ministério da Agricultura chinês a considerar a possibilidade de as empresas chinesas alugarem ou até mesmo comprarem áreas cultiváveis na América Latina, Austrália e na ex-União Soviética.
A medida seria uma forma de compensar o vertiginoso processo de urbanização e industrialização do gigante asiático, o que vem reduzindo consideravelmente as áreas de produção agrícola na China. De acordo com a especialista em China da BBC, Shirong Chen, a idéia já fui experimentada há dez anos, quando uma empresa chinesa formou uma joint-venture com o governo cubano, para cultivar duas fazendas de produção de arroz. A mesma iniciativa ocorreu no México.
ONU e Bird falam em "desafio sem precedentes"
Os preços dos alimentos básicos já subiram 60% no mercado internacional no primeiro trimestre, pressionando a inflação num país que precisa alimentar 1,3 bilhão de pessoas.
A preocupação com os alimentos mais caros não se limita à China. Ontem, as 27 agências humanitárias da ONU e o Banco Mundial (Bird) pediram à comunidade internacional US$2,5 bilhões em doações para combater a crise, que, segundo os dois organismos, coloca "um desafio sem precedentes e de proporções globais". O pedido foi feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao fim da reunião de Berna, na Suíça, para tratar do tema. A ONU e o Bird vão criar ainda uma força-tarefa para acompanhar o problema.
- Se não conseguirmos as doações, corremos o risco de de termos mais fome, mais desnutrição e a explosão de distúrbios sociais - disse Ban Ki-moon, na coletiva de imprensa, ao lado do presidente do Bird, Robert Zoellick, e o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
Lula volta a defender o etanol brasileiro
Moon convidou os líderes mundiais para uma reunião de cúpula sobre segurança alimentar, que será realizada em Roma, entre os dias 3 e 5 de junho. E fez um apelo aos países para não limitarem suas exportações de alimentos.
Para os organismos presentes na reunião de Berna, a produção de biocombustíveis é um dos principais elementos a pressionarem os preços dos alimentos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, voltou a defender a produção de biocombustíveis pelo Brasil e criticou os que têm apontado essa política como uma das responsáveis pela crise atual.
- Tomemos a crise mundial de alimentos. Alguns querem atribuí-la aos biocombustíveis. Essa é, no mínimo, uma distorção absurda. A experiência brasileira demonstrou que os biocombustíveis, além de não ameaçar a segurança alimentar, geram emprego e renda no campo e ajudam a combater o aquecimento global - disse Lula, durante a formatura de novos diplomatas, no Itamaraty. - Se os países ricos desejam aumentar a oferta de alimentos, por que não eliminam os subsídios que dão à sua agricultura?
O programa de biocombustíveis brasileiro terá apoio da Espanha na União Européia, garantiu ontem o ministro espanhol de Assuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos. Em visita ao Brasil, Moratinos disse que o etanol brasileiro é "singular" e que, por isso, há empresas espanholas interessadas em fazer negócio com o país.
- O etanol brasileiro é um etanol bom - disse Moratinos.
Já o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi, disse ontem que o Brasil terá safra recorde de cana-de-açúcar este ano. Segundo ele, serão colhidos entre 558,1 milhões e 579,8 milhões de toneladas do produto na safra 2008. De 309,8 milhões a 321,9 milhões toneladas serão destinadas à fabricação de combustível e de 248,3 milhões a 257,9 milhões de toneladas, para o açúcar. O volume da safra é de 11,3% a 15,6% superior ao do período passado.
(*) Especial para O GLOBO, com agências internacionais
http://oglobo.globo.com/economia/