Título: BC sinaliza que juros continuarão a cair
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2009, Economia, p. 14

Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária mostra que a inflação não preocupa o governo e indica novo corte da Selic

Diante da baixa atividade econômica, o Banco Central abandonou, ainda que temporariamente, as preocupações com a taxa de inflação que está abaixo da meta em todas as projeções da própria instituição e do mercado. Mesmo tendo diminuído a velocidade de queda da Selic, a taxa básica de juros, ¿nas duas reuniões anteriores a de abril a redução tinha sido de 1,5 ponto percentual e agora foi de 1% ¿ o Comitê de Política Monetária (Copom) deixa claro que a redução vai continuar. A taxa está em 10,25% e o mercado espera a repetição da diminuição de um ponto percentual na reunião marcada para junho. Com isso, a taxa Selic cairá para inimagináveis 9,25%.

Na ata divulgada ontem, o BC enfatiza que a melhora do ambiente externo e a recuperação da economia no fim de março é ainda ¿incipiente¿ e baseada, principalmente, nas ações do governo ¿ entre elas a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis, eletrodomésticos e materiais de construção. Daí porque, embora cauteloso, o comitê presidido por Henrique Meirelles, sinaliza para quedas futuras da taxa.

¿Para o Banco Central, a atividade econômica está tendo, neste momento, um peso maior que a inflação. Ela (a atividade econômica) melhorou, mas a redução das expectativas inflacionárias melhorou muito mais, inclusive em velocidade¿, disse a economista-chefe do ING Bank, Zeina Latif. No atual contexto, de acordo com Latif, o nível de atividade econômica é o ponto mais sensível, o que detém a preocupação do Banco Central.

Em um trecho da ata, o Banco Central cita que o desaquecimento da demanda criou ¿importante margem de ociosidade dos fatores de produção, que não deve ser eliminada rapidamente em um cenário de recuperação gradual da atividade econômica¿. Um dos indicativos mais importantes para a continuidade da queda dos juros está no parágrafo 24 da ata. ¿ Mesmo diante das consequências do processo de ajuste do balanço de pagamentos (que contabiliza todas as contas do país com o exterior) e da presença de mecanismos de realimentação inflacionária na economia, existe espaço para a flexibilização da política monetária¿, disse o documento.

Quanto à inflação, o Copom avaliou no documento que o mercado financeiro ainda não incorporou integralmente a melhora das condições futuras para a inflação no mercado de juros. No parágrafo 23 da ata, os diretores do BC afirmam que o ¿Copom entende também que a melhora do cenário prospectivo para a inflação em 2009 e em 2010 não foi, até o momento, incorporada na estrutura a termo da taxa de juros¿.

A percepção do comitê de que há melhora no cenário é sustentada pelos sinais de arrefecimento da atividade, afirma o documento. O texto cita, por exemplo, ¿indicadores de produção industrial (ainda que exacerbados, em alguns setores, pela continuidade do ajuste de estoques¿, dados disponíveis sobre o mercado de trabalho e taxas de utilização da capacidade na indústria, bem como sobre confiança de empresários e consumidores, e do recuo das expectativas de inflação para horizontes relevantes.

Diante da evolução desses números, a ata afirma que ¿continuaram se consolidando as perspectivas de concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA voltaria a evoluir de forma consistente com a trajetória das metas, que é de 4,50% (centro da meta).

¿A projeção para a inflação em 2009 recuou em relação ao valor considerado na reunião do Copom de março e encontra-se sensivelmente abaixo do centro de 4,5% para a meta fixada.¿