Título: PF diz que investigação vazou
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 03/05/2008, O País, p. 3

Advogado investigado por desvio de dinheiro do BNDES alertou sobre escuta telefônica.

Alguns dos envolvidos no suposto esquema de desvio de verbas do BNDES sabiam que estavam sob investigação um mês antes de a Operação Santa Teresa ser deflagrada. A informação consta de relatório da Polícia Federal enviado à Justiça Federal e serviu para justificar pedidos de prisão temporária. Segundo a PF, o vazamento ocorreu quando o inquérito estava na 8ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Os investigados teriam sido alertados sobre interceptações telefônicas. O responsável pelo vazamento não foi identificado.

"Quando o inquérito estava na 8ª Vara Criminal Federal, foi constatado vazamento sobre a existência de interceptação telefônica. A origem do vazamento ainda não foi comprovada, mas sabe-se que (o advogado) Ricardo Tosto foi informado sobre o andamento da operação", diz o relatório do delegado Rodrigo Levin, chefe da Operação Santa Teresa, do dia 17 de abril.

Segundo a PF, alguns investigados sabiam, pelo menos desde 25 de março, que estavam grampeados. A operação ocorreu em 24 de abril. No dia 25 de março, às 16h11m, o empresário Marcos Mantovani, sócio da consultoria Progus e suspeito de fazer a distribuição do dinheiro e fornecer notas frias à quadrilha, telefonou para a secretária e foi informado que Tosto enviara um e-mail. "Às 19h, após abrir o e-mail, Mantovani comenta com sua filha (e secretária, Ana Paula Mantovani) que Tosto avisava que os telefones estavam "sujos"", diz o relatório.

PF: investigados estavam sendo instruídos por Tosto

De acordo com a PF, o advogado teria avisado a alguns dos investigados. "Possivelmente, Tosto sabe da investigação, mas não repassou a informação completa a todos os demais alvos", diz a PF. A informação sobre o vazamento foi usada pela PF para pedir a prisão de Tosto: "Ricardo Tosto está trabalhando no sentido de se resguardar de todas as acusações que lhe serão feitas. Os outros alvos podem ser instruídos da mesma forma". O advogado passou 51 horas preso entre quinta-feira e sábado da semana passada.

Por sua assessoria, Tosto negou ter recebido informações da Operação Santa Teresa e afirmou que o e-mail no qual falava sobre telefones sujos se referia a outro processo.

Depois da descoberta do vazamento, a PF transferiu o inquérito da 8ª para a 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo, alegando ter descoberto que o grupo lavava dinheiro e que a 2ª Vara é especializada em crimes financeiros. Para a defesa, foi uma forma de tentar em outro juízo os pedidos de prisão negados pela juíza da 8ª Vara, Adriana Pileggi de Soveral, quando o caso estava sob sua jurisdição. A 2ª Vara autorizou as prisões e a Operação aconteceu em 24 de abril.

A juíza Adriana de Soveral não comentou o caso: "Nada tenho a declarar a respeito, haja vista o processo tramitar na 2ª Vara Federal e em segredo de justiça", disse, por e-mail.

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) foi procurado por telefone, mas não atendeu. Sem ser formalmente investigado, por ter foro especial, Paulinho é citado no caso por, segundo a PF, ter recebido R$325 mil do esquema.