Título: ONU: crise de alimentos se deve à especulação
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Fonte: O Globo, 03/05/2008, Economia, p. 33
Novo relator critica FMI, Bird, empresas e subsídios e não menciona biocombustíveis.
PARIS. O novo relator da ONU para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, denunciou ontem a especulação como o principal motivo por trás da atual crise de alimentação em mais de 40 países. Ao contrário de seu antecessor, Jean Ziegler, que pôs a culpa nos biocombustíveis, que chamou de "um crime contra a Humanidade" - e depois voltou atrás, enviando carta ao Itamaraty afirmando que o etanol brasileiro não era uma ameaça -, De Schutter enumerou, em entrevista ao jornal francês "Le Monde", outras razões para a crise, como a industrialização do setor agrícola e os subsídios dos países ricos, que classificou de "vergonha".
De Schutter considerou "indesculpável" a falta de ação da comunidade internacional, que por anos agiu com descaso em relação aos que pediam apoio. "Não se fez nada contra a especulação de matérias-primas", alimentada pela queda da bolsa, afirmou. Para ele, a crise atual revela os limites da agricultura industrial.
De Schutter também criticou o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) por terem estimulado "os países mais endividados, sobretudo os da região Subsaariana da África, a desenvolverem cultivos de exportação e importarem alimentos". Segundo ele, o resultado disso foi tornar essas nações vulneráveis à volatilidade dos preços.
Ele criticou ainda as regras de propriedade intelectual de "um pequeno número de empresas" e citou Monsanto, Dow Chemicals e Mosaic, que controlam as patentes de sementes e pesticidas.
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