Título: Ingrid: cobrança por ação de Lula
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 03/05/2008, O Mundo, p. 35

Ex-companheiro de cativeiro e marido pedem esforço do presidente.

SÃO PAULO. O ex-senador colombiano Luis Eladio Perez, libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) há dois meses, cobrou ontem a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações entre o governo de seu país e os guerrilheiros para a libertação da ex-senadora Ingrid Betancourt, seqüestrada há seis anos, e outros quatro mil reféns:

- Gostaríamos que o presidente Lula tivesse um papel muito mais protagonista. Lula tem capacidade e autoridade moral e política para isso - disse, em entrevista no Global Greens, evento do Partido Verde.

Governo brasileiro diz estar acompanhando o caso

O ex-senador destacou a participação do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na mediação com os guerrilheiros, interrompida após a morte de dois líderes das Farc. Esta semana, o governo francês pediu a Chávez que retome o diálogo com a guerrilha.

Por sua vez, o governo brasileiro respondeu que o assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, esteve no início da semana em Quito, no Equador, com os emissários do presidente Nicolas Sarkozy, da França, discutindo a situação dos reféns da Farc. De acordo com a assessoria da Presidência, o Brasil tem acompanhado o processo de negociação entre o governo de Alvaro Uribe e os guerrilheiros.

Ao lado do marido de Ingrid, Juan Carlos Lecompte, que fez apelo semelhante ao seu, Eladio Perez falou sobre o convívio com a senadora no período em que ficou em poder dos seqüestradores. Os dois passaram quatro anos juntos, mas foram separados em 2007. Seis meses depois, ele a encontrou por cinco minutos. Foi a última vez em que a viu, em 4 de fevereiro deste ano.

- Eu a vi muito pior do que na foto que foi divulgada como prova de vida. Está muito mais magra. Mas me disse: "Não se assuste, estão me dando vitaminas, cálcio. Estou melhorando".

Segundo Eladio Perez, Ingrid sofre os efeitos de parasitas no estômago. Seu marido contou ainda que ela tem hepatite. Perez contou até as horas de seu tormento: seis anos, oito meses, 17 dias e 9 horas como refém. Uma vez, tentou fugir com Ingrid. Ficaram seis dias na floresta, mas, o ex-senador teve uma crise diabética e tiveram de retornar ao cativeiro. Como castigo, perderam sapatos e botas.

Embora se diga mais esperançoso, Lecompte acha que Ingrid não sobreviverá até o final do ano no cativeiro.

- Ela está muito doente e triste. E Uribe não tem muito interesse em libertá-la. Ela, segundo as pesquisas, é o maior nome para impedir que ele tenha seu terceiro mandato - disse ele, que se queixou de não ter sido recebido por Lula em abril, apesar de ter encontrado todos os presidentes da América do Sul em busca de apoio humanitário.