Título: Um terço da população mundial com o vírus
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2009, Mundo, p. 20

Uma entre três pessoas, em todo o mundo, ainda pode ser contaminada pelo vírus H1N1, da gripe suína. Em números reais, isso representa mais de 2 bilhões de possíveis vítimas do surto que já atingiu mais de 2.370 pessoas em 23 países e matou 45, no México e nos Estados Unidos. A possibilidade foi admitida ontem pelo número dois da Organização Mundial de Saúde (OMS), Keiji Fukuda, com base no histórico de pandemias passadas. O diretor adjunto do organismo, no entanto, disse que é cedo para fazer prognósticos e até para elevar o nível de alerta de 5 para 6, o que significaria admitir uma pandemia instalada.

¿Se considerarmos as pandemias do passado, uma estimativa razoável nos leva a pensar que um terço da população (mundial) poderia ser infectada¿, afirmou Fukuda durante videoconferência com a participação da imprensa. ¿Mas vivemos hoje num mundo diferente. É prematuro fazer prognósticos¿, ponderou. A maior preocupação, segundo o diretor adjunto, não é a contaminação de tantas pessoas, propriamente, mas as complicações que poderiam aparecer nos pacientes, como uma pneumonia, que pode levar à morte. Fukuda ainda reafirmou que ¿é bastante provável¿ que a OMS declare situação de pandemia a qualquer momento.

O coordenador das Nações Unidas para a gripe, David Nabarro, por sua vez, destacou que os governos não devem esquecer as medidas de proteção, mesmo que haja um aparente abrandamento do surto, como no caso do México. ¿O vírus com o qual lidamos pode facilmente tornar-se mais agressivo¿, disse Nabarro. Ele lembrou que a gripe espanhola, que matou mais de 40 milhões de pessoas em 1918 e 1919, causou de início uma epidemia de baixa mortalidade.

Apesar de a marca ser bastante elevada, especialistas acreditam que a gripe suína pode realmente contaminar um terço da população mundial. ¿Isso não me parece muito exagerado pela simples razão de ser um vírus muito infeccioso. Estamos falando de um vírus que ninguém tinha visto antes e ao qual, por isso, todos são imunologicamente vulneráveis¿, explicou o virologista Chris Smith, da Universidade de Cambridge, à agência Associated Press. O infectologista John Oxford, do Royal London Hospital, no Reino Unido, concorda com a estimativa, mas lembra que ¿isso não significa que 2 bilhões vão morrer¿. ¿Metade dessas pessoas não vai nem desenvolver os sintomas. Ou, se desenvolvê-los, serão tão suaves que dificilmente os portadores saberão que tiveram a gripe¿, garante Oxford.

Argentina O primeiro caso de contaminação pelo H1N1 foi confirmado ontem na Argentina, terceiro país sul-americano a entrar no mapa da pandemia ¿ depois da Colômbia e do Brasil. O paciente é um homem de nacionalidade argentina que chegou no último dia 25 de uma viagem ao México. Segundo o Ministério da Saúde, ele já teve alta. Outros 13 casos que eram considerados suspeitos no país foram descartados. O México, foco inicial da doença, já registrou 1.112 casos, com 42 mortes. Os Estados Unidos vêm em seguida, com 896 casos e duas mortes, ambas no Texas.

Ministros da Saúde do Japão, da China, Coreia do Sul e dos 10 países da Asean (bloco do Sudeste Asiático) participam hoje de uma reunião na Tailândia para coordenar a luta contra a doença. A região, a mais afetada pelo surto de gripe aviária, em 2005 e 2006, teme que o H1N1 chegue com força. A OMS sabe do risco na Ásia ¿ onde um caso foi confirmado em Hong Kong e dois na Coreia do Sul ¿, mas teme por todo o Hemisfério Sul, onde em breve começará o inverno e, com ele, a época da influenza comum.