Título: O comércio lícito para os usuários da droga no Rio
Autor: Antunes, Laura; Berta, Ruben
Fonte: O Globo, 04/05/2008, Rio, p. 21

Lojas e até bancas de jornal vendem a consumidores da droga produtos que oficialmente são para fumantes de tabaco.

Numa sociedade na qual a maconha é considera uma droga ilícita, prospera um comércio voltado aos usuários da erva. De dois anos para cá, começaram a surgir no Rio lojas, legalizadas, que vendem todo o tipo de parafernália para quem fuma maconha, como cachimbos, vaporizadores e papel de seda, por exemplo. Este último artigo, aliás, pode ser encontrado com facilidade em bancas de jornais por toda a cidade. Custa, em média, R$3 o pacote com 40 folhas. A venda desses produtos ¿ muitos deles já de fabricação nacional ¿ não representa uma atividade ilegal, pois são apresentados como para o fumo de tabaco.

O argumento de que esse comércio cresce e tem lucros graças aos usuários da erva é usado pelos organizadores da Marcha da Maconha, prevista para a tarde de hoje, no Arpoador, para reforçar a tese de que se trata de um passo em direção à legalização da droga. A concentração está marcada para 14h, mas a saída, em direção à Praia de Ipanema, é às 16h.

¿ Chega a ser uma hipocrisia o uso da maconha ser proibido e você poder comprar em lojas artigos para fumar a erva. Acho que isso deveria ser um caminho em direção, pelo menos, à tolerância ao uso ¿ diz o designer gráfico William Filho, um dos integrantes da Marcha da Maconha.

Usuários de maconha chegaram a propor boicote

Além das lojas, algumas com perfil de tabacaria, as bancas de jornais e até barracas no camelódromo da Rua Uruguaiana, no Centro, são freqüentadas por usuários de maconha. Por conta dessa clientela, integrantes da marcha chegaram a procurar alguns empresários para pedir apoio à realização do evento. A resposta negativa surpreendeu o grupo pró-maconha, que contava com essa adesão.

¿ As lojas têm consciência de que grande parte dos clientes é formada por pessoas que fumam maconha e vão à procura de bong (cachimbo de água) e pipe (cachimbo) e papel de seda. Elas lucram, mas, na hora de dar o apoio, se recusam a ter o nome ligado ao movimento ¿ reclama William, acrescentando que a negativa fez com que consumidores de maconha chegassem a discutir, pela internet, boicote às lojas.