Título: Água só dou outro lado do muro
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 04/05/2008, Economia, p. 33

Na capital, bolsão de pobreza fica na vizinhança das mansões

LIMA. A família de Salvador Handahylla vive num bolsão de pobreza em Lima. Com seis filhos e morando num casebre em Pamplona Alta, ele paga três vezes mais pela água que chega à favela de carro-pipa do que os vizinhos ricos de Casuarinas, abastecidos pela rede pública. As localidades são separadas por um muro.

Morando ao lado de um dos reservatórios da Sedapal, a empresa de distribuição de água em Lima, a casa dos Handahylla não tem água encanada. Ironia maior é que Salvador, jardineiro, usa à vontade a água que lhe falta para cuidar dos jardins do patrão, em Casuarinas. Seu salário é de 900 soles, menos que os 1.200 soles que seu empregador gasta com água.

Apesar de, aos olhos dos investidores estrangeiros, o Peru ser considerado um refúgio seguro, os jovens estão temerosos. Pesquisa do Instituto Apoyo constatou que 75% deles deixariam o país se pudessem. É que a renda per capita é quase a mesma há 30 anos, segundo o cientista político Eduardo Toche, do Centro de Estudos e Promoção do Desenvolvimento:

¿ A concentração de renda não diminui, e quem era pobre há dez anos continua pobre.

Ademar Seabre, do Observatório Político Sul-Americano, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio (Iuperj), aponta que os salários do Peru cresceram apenas 0,6%, em 2007, e o governo usa ¿ineficientemente seus recursos¿. (L.M.)