Título: Para investidores estrangeiros, a jóia da coroa
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 04/05/2008, Economia, p. 35

DEPOIS DO AVAL: Empresas brasileiras como Vale, Petrobras, Camargo Corrêa e Votorantim já fincaram bandeira.

Peru é o primeiro produtor latino-americano de ouro, prata, zinco e estanho, minérios em alta no mercado mundial.

LIMA e ANCASH. O subsolo do Peru virou alvo de cobiça das grandes mineradoras internacionais: a anglo-suíça Xstrata e a chinesa Zijin Mining Group, maior produtora de ouro da China, além da brasileira Vale. O país é o primeiro produtor latino-americano de ouro, prata, zinco e estanho. Impulsionadas pelos preços no mercado internacional, as commodities minerais bateram o recorde no Peru em pagamento de impostos: 10 milhões de soles, o equivalente a US$3,4 milhões, segundo a Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia.

Esse volume de arrecadação representou 45% do total de impostos arrecadados no país em 2007. Foi um resultado impulsionado sobretudo pela alta dos preços no mercado internacional, o que representou uma variação de 17,5% sobre 2006.

Berço de notáveis civilizações pré-colombianas, núcleo central do império Inca e sede colonial da coroa espanhola, o Peru virou a jóia dos investidores estrangeiros. Em 2007, os investimentos estrangeiros somaram US$15,3 bilhões. Além da Vale, que está esperando a licença ambiental para deslanchar o projeto Bayóvar, outras empresas brasileiras já se fazem presente em solo peruano: Petrobras, Votorantim, Camargo Corrêa.

O projeto da Vale vai consumir investimentos de US$479 milhões para explorar 3,9 milhões de toneladas anuais de fosfato na região de Piura. A Petrobras aportou no Peru para explorar petróleo e gás natural. Em 2007, a Petrobras Energia Peru produziu 13,31 mil barris por dia de óleo e outros 31 mil metros cúbicos diários de gás natural, na Bacia de Talara, localizada no Noroeste do país.

Marco regulatório atrai investimento estrangeiro

Carlos Cruz, vice-presidente da Newmont Mining, a controladora da minerado Yanacocha, acredita que o marco regulatório do país é extremamente convidativo e seguro para o capital estrangeiro. A Newmont foi a primeira mineradora estrangeira a desembarcar no Peru, em 1993. Os dólares da empresa, com sede em Denver, nos EUA, reinauguraram uma nova fase, depois que o país ficou 22 anos sem receber investimentos estrangeiros no setor mineral.

- Não precisamos de mudanças. Se ficar como está, já está ótimo - festeja Cruz.

Em 15 anos de atuação no mercado peruano, a empresa já investiu US$2 bilhões. Ela explora ouro na região de Cajamar, no Norte do país. O potencial da mina é para mais 25 anos. Em 2007, a empresa produziu 1,7 milhão de onças.

Já o estudioso do setor de mineração Carlos Monge, do Grupo Proposta Cidadã, uma organização não-governamental (ONG), acredita que o país está adotando regras extremamente generosas. Ele lidera um grupo de estudo de vigilância das indústrias extrativistas. Monge está convencido de que o setor mineral é, sim, a locomotiva do avanço peruano, mas não está contribuindo em nada para reduzir as desigualdades sociais do país:

- É que o setor mineral é intensivo em capital, mas não em mão-de-obra. Isso significa que os bons resultados do setor estão engordando apenas os lucros dos acionistas das empresas multinacionais.

Huancavelica, por exemplo, que é considerada uma área rica em cobre, ouro, zinco e prata é, paradoxalmente, a região mais pobre do Peru. O índice de pobreza é de 88,7%.

O setor de mineração é o segundo mais procurado pelos investidores estrangeiros no país: 18,79%. Os espanhóis lideram o ranking dos dez principais investidores privados, segundo a Agência de Promoção dos Investimentos Privados (ProInversión, sigla em espanhol). Os espanhóis respondem por 32,25% dos investimentos, seguidos dos EUA. Os investimentos brasileiros representaram 2,22% em 2007.

História do país é marcada por guerras

O foco da Camargo Corrêa no exterior é a América Latina e a África. No Peru, ela tem dois projetos em andamento: o corredor viário Interoceânico Sul (rodovia do Pacífico) e a estrada Chiclayo-Chongoyape. Com 1,2 mil quilômetros, a rodovia do Pacífico vai ligar a cidade de Assis, no Acre, aos portos de Ilo, Maratani e Marcona, no Sul do Peru. É um projeto em parceria com Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.

A Votorantim Metais protocolou, no último dia 26 de março, uma oferta pública de ações na Bolsa de Lima, para adquirir 26,13% das ações ordinárias da Milpo. A empresa é a terceira maior produtora de zinco do mundo e atua no mercado peruano desde 2004, quando adquiriu o controle da refinaria de zinco de Cajamarquilla, onde já investiu US$830 milhões.

Em 2005, passou a ser acionista da Milpo, com a aquisição de 24,88% de participação. No último ano, a Votorantim Metais anunciou novos investimentos no país para ampliação a produção de Cajamarquilla, que saltará de 130 mil toneladas para 320 mil toneladas por ano. A primeira etapa do projeto, expansão para 160 mil toneladas por ano, já foi concluída.

A história da mineração no Peru foi marcada por guerras. Atraído pelas riquezas do império Inca, o conquistador espanhol Francisco Pizarro aportou no país no século XVI. Em Cajamarca, uma província mineral recheada de ouro, o colonizador executou o imperador inca Atahualpa, em 1533.