Título: Após euforia do grau de investimento, os riscos
Autor: Economia
Fonte: O Globo, 04/05/2008, Economia, p. 36

DEPOIS DO AVAL: Para presidente da Apex, exportações não dependem só do câmbio, mas também da marca Brasil.

Especialistas alertam para queda maior do dólar e disparidade entre juros no país e os que empresas pagarão lá fora.

O anúncio de que o Brasil passou a ser um país mais seguro para investimentos externos, feito na semana passada pela agência Standard & Poor"s (S&P), provocou euforia no mercado e levou o presidente Lula a dizer que "não resta mais dúvida de que o Brasil é um país sério". Mas a promoção do país a esse clube restrito tem um lado menos vistoso. O esperado aumento da entrada de dinheiro deve derrubar ainda mais o dólar, prejudicando as exportações. Economistas chamam a atenção ainda para o fato de que o nível de juros internos - a Taxa Selic foi recém-reajustada para 11,75% ao ano - é incompatível com o que as empresas passarão a pagar no exterior. "Uma investigação na Terra mostrou que juros mais altos que os nossos não estão aqui, devem estar em Marte", ironiza o economista e ex-ministro Antônio Delfim Netto. Para ele, não há razão para o país manter juros reais acima de 3% ou 4% ao ano. Apesar da defesa de corte de juros, Delfim acha que o Banco Central não deixará de lado o aperto monetário: "O BC cometeu um erro e fez terrorismo nas últimas atas, meteu-se em um cabo-de-guerra com o Ministério da Fazenda". Para o economista Ricardo Carneiro, pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, o risco é o Brasil repetir a experiência do México, que é grau de investimento há vários anos mas registra crescimento medíocre. "É bom ser grau de investimento, já que o maior fluxo de investimentos aumenta a liberdade do governo de fazer a política econômica doméstica. Mas não é uma panacéia". Carneiro defende o controle da entrada de capitais para amenizar os efeitos do novo status do país: "Há quem diga que isso poderia assustar o mercado, mas seria um controle amigável". Já o presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira, acredita que o país tem mais a comemorar do que lamentar. As exportações, diz, de início podem até ser afetadas, mas não é só o câmbio que conta. A marca Brasil, a qualidade e a inovação tecnológica são primordiais, afirma. (Aguinaldo Novo, Lino Rodrigues e Eliane Oliveira)