Título: Governo precisará reconhecer o voto popular
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 04/05/2008, O Mundo, p. 39

SANTA CRUZ DE LA SIERRA, Bolívia. O empresário Branko Marincovic, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, lidera o movimento pela autonomia nos departamentos bolivianos. Em entrevista ao GLOBO, afirmou que o governo será obrigado a dialogar com os autonomistas que, segundo ele, já são maioria no país.

Como ficará a situação de Santa Cruz depois deste domingo?

BRANKO MARINCOVIC: Não será apenas Santa Cruz, mas quatro departamentos que lutarão pela sua autonomia nos próximos 30 dias, como Pando, Tarija e Beni. Há ainda outros, como Cochabamba, que querem brigar pela autonomia. A Bolívia tem nove departamentos, ou seja, a maioria quer a autonomia.

Quanto tempo poderá durar isso?

BRANKO: Poderá ser um período curto ou muito longo. É preciso que haja uma vontade do governo de nos reconhecer e sentar para conversar. O povo é soberano e o governo terá que reconhecer sua vontade.

O governo não reconhece esse referendo nem fala em negociar o estatuto. Como ficará essa situação na segunda-feira?

BRANKO: Não há como um governo não reconhecer o voto popular. Se ele não reconhecer, o mundo há de reconhecer.

Há um risco de revolta popular pelo não cumprimento do referendo?

BRANKO: Nossas revoltas populares são democráticas. Não sairemos deste caminho. O Comitê Cívico não fará ocupações, seguirá a democracia, sempre.

Com relação à instabilidade política, há riscos de se descumprirem contratos com os vizinhos, como o Brasil?

BRANKO: Com a autonomia, nossas relações comerciais com o Brasil sempre se fortalecerão. Aliás, o Brasil tem um sistema federativo que o ajuda muito a crescer. Também queremos um sistema assim. (S. A.)