Título: Cada vez mais forte a perspectiva em torno do sim
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 04/05/2008, O Mundo, p. 40

Grupo de Amigos não teria força para reverter a situação.

BRASÍLIA. O ministro das Relações Exterioresl, Celso Amorim, esteve há cerca de um mês na Bolívia, representando o Brasil no chamado Grupo de Amigos da Bolívia, também formado por Argentina e Colômbia. Nos bastidores da Esplanada dos Ministérios, no entanto, a avaliação é de que esse grupo não tem a menor força para reverter os acontecimentos na Bolívia.

As perspectivas em torno da aprovação da autonomia são cada vez mais fortes, admitiu uma fonte do governo brasileiro, baseando-se no que dizem as pesquisas de opinião, veiculadas largamente na imprensa do país vizinho ao longo das últimas semanas.

Constituição não pode ser comprometida, diz Brasil

Diante do "praticamente inevitável", a estratégia daqui para frente será trabalhar por um entendimento que evite que a Bolívia caminhe para o separatismo.

A manutenção da integridade territorial do país que tem a maior fronteira terrestre com o Brasil, a viabilidade da Bolívia como Estado e a capacidade do governo central, chefiado por Evo Morales, de promover o desenvolvimento são condições imprescindíveis. Os princípios constitucionais, afirmam autoridades brasileiras, não podem ser comprometidos.

- Uma coisa é você dar um pouco mais de autonomia. Outra coisa é estabelecer instituições totalmente independentes, como alfândegas separadas - disse uma importante fonte da área diplomática.

A necessidade de acordo entre La Paz e departamentos

Na outra vertente, há os interesses dos brasileiros que vivem em Santa Cruz. Pessoas envolvidas diretamente no tema afirmam que, se dependesse da Petrobras, dos sojicultores, dos pecuaristas e dos demais cidadãos com negócios na região, o resultado seria o "sim" à autonomia.

São empresas e pessoas que assistem à transferência dos impostos pagos em Santa Cruz de la Sierra para La Paz. Por isso, dizem as fontes do governo, a necessidade de um acordo direto entre os departamentos bolivianos e La Paz, com total segurança jurídica e conforme a Constituição do país, é considerado urgente.

- Os estados brasileiros e os municípios são autônomos, mas isso não significa uma separação. A última coisa que queremos é ver um Estado dividido em diferentes Estados: o lado rico e o lado pobre. Não queremos uma América do Sul fragmentada - afirmou um diplomata. (E.O.)