Título: Em Manaus, aula no escuro e no calor
Autor: Soares, Natália
Fonte: O Globo, 01/05/2008, O País, p. 4

Além de luz, faltam professores e aulas práticas no hospital universitário.

MANAUS e RIO. Laboratórios defasados, falta de professores de carreira e de aulas práticas no hospital universitário, além de uma grade curricular de 1985, são os principais motivos que levaram o curso de medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) à lista dos 17 reprovados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade).

De acordo com o Departamento Acadêmico do curso de medicina da Ufam, os alunos sempre são culpados pelo baixo rendimento, mas os universitários não contam com boa estrutura de ensino. A sede da faculdade, em Manaus, por exemplo, está há três dias sem luz, e os alunos são obrigados a assistir às aulas no escuro e sem ar-condicionado.

Os problemas vão desde a falta de energia elétrica até a ausência de professores para ministrar aulas práticas no hospital universitário. De acordo com alunos, não existe laboratório há mais de dois anos. Sem o local para aulas práticas, os futuros médicos não podem ser treinados na área de atenção básica de saúde.

O laboratório onde os estudantes fazem exames dos cadáveres também está em situação precária. O freezer onde os cadáveres são mantidos, por exemplo, está queimado e um dos equipamentos do laboratório, o elevador de cadáveres, já teve o cabo remendado diversas vezes.

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM), José Bernardes Sobrinho, o baixo rendimento dos estudantes da Ufam é resultado da falta de professores de carreira, dos baixos salários e da situação precária do HUGV.

O diretor do Hospital Universitário Getulio Vargas (HUGV), Raynison Monteiro de Souza, afirmou que a unidade só dispõe de equipamentos com tecnologia ultrapassada. Um exame de tomografia avançada feito na unidade, por exemplo, dura até 40 minutos, enquanto equipamentos modernos fazem o mesmo exame em poucos minutos.

Em Alagoas, problema de currículo antigo se repete

Além dos alunos de medicina, o diretor do hospital informou que atende a outros 14 cursos de graduação e pós-graduação. Em média, passam pelo local cerca de 400 acadêmicos.

- Aqui os alunos perdem em tecnologia. O HUGV é uma instituição velha e antiga.

No ano passado, o hospital passou por crise financeira e quase suspendeu as atividades. O orçamento mensal do HUGV é de R$1 milhão. Os recursos são repassados pela Secretaria estadual de Saúde, com quem o hospital tem convênio.

A diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Rosana Vilela, disse ontem que já esperava que seus alunos pudessem ter dificuldades na prova, porque o Enade foi baseado nas novas diretrizes curriculares, enquanto eles estavam submetidos ao currículo antigo. Mas ainda assim se surpreendeu com o mau desempenho:

- Não tínhamos a expectativa de uma nota tão baixa. É nosso dever retomar a qualidade.

Rosana citou outros fatores que podem ter influenciado:

- Temos as dificuldades de outras tantas federais: fazia muito tempo que não havia concurso para professores, agora é que abriremos 20 vagas; e temos um hospital universitário que precisa ser olhado.

A Universidade Federal do Pará (UFPA) informou por sua assessoria de imprensa que só se pronunciará após ser comunicada oficialmente do resultado.