Título: Especialistas criticam política americana
Autor: Tabak, Flávio; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 01/05/2008, O País, p. 10
Para eles, governo dos EUA gasta muito e tem resultados insuficientes.
Os expositores técnicos da comissão criticaram a política antidrogas americana e elogiaram os resultados das experiências testadas em países europeus. O especialista em ações de combate às drogas nos EUA Peter Reuter disse que o governo americano gasta muito e não mostra resultados convincentes para os cidadãos:
- Há cerca de 500 mil presos por delitos relacionados a drogas nos Estados Unidos. Essa é a mesma população carcerária de toda a Europa por todos os crimes. Mesmo assim, o preço da heroína e da cocaína no país caiu, ao contrário do esperado pelas autoridades americanas.
Segundo o estudioso da Universidade de Maryland, o mercado de drogas nem sempre está relacionado com violência. Ele se agrega a problemas de segurança pública em países que registram altos índices de criminalidade, como Brasil, Estados Unidos, México e Colômbia.
A grande quantidade de intermediários faz com que o preço de uma mesma quantidade de droga salte de centenas para milhares de dólares.
- Para se ter uma idéia, um quilo de folha de coca é negociado a US$300 na Colômbia. Depois de enriquecido com outras substâncias, o mesmo quilo da droga chega refinado a cidades americanas custando mais de US$100 mil - disse Reuter.
A experiência européia de redução de danos foi mostrada pelo estudioso holandês Martin Jelsma, do Transnational Institute. Ele sugeriu que a ONU adote conceitos como a regulação legal do consumo de maconha para países que assim decidirem.
- Não vai existir um mundo sem drogas. A tolerância zero está sendo substituída pela redução de danos, que aproxima as pessoas do problema.
Redução de danos é o conjunto de políticas flexíveis que diminui ao máximo os prejuízos relacionados a drogas para o consumidor e a sociedade, como autorização para uso regulado e venda de pequenas quantidades de maconha, e a troca de seringas para usuários de drogas injetáveis.
- A ONU rejeitou o debate desse tipo de política devido à forte pressão dos Estados Unidos, que ameaçaram cortar fundos das Nações Unidas. Até mesmo países com políticas rígidas de repressão a drogas, como a China, implementaram a política de troca de seringas descartáveis.
O diretor-executivo do Viva Rio e secretário da comissão, Rubem César Fernandes, disse que o assunto é um tabu:
- Quem fala muito sobre isso é acusado de apologia. O relatório da ONU de 98 é influenciado pelos EUA, que não estão interessados na avaliação, mas sim na guerra ao terror.