Título: PF usará dados da própria PF
Autor: Luiz, Edson; Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 12/05/2009, Política, p. 03

Para investigar denúncias no Senado, polícia reanalisará informações da Operação Mão de Obra de 2006

A Polícia Federal vai usar as informações obtidas durante a Operação Mão de Obra no novo inquérito que irá apurar as denúncias feitas pelo ex-diretor do Senado João Carlos Zoghbi de que havia irregularidades nas licitações da Casa. A PF espera para hoje o pedido oficial do Ministério Público no Distrito Federal, mas já tem pelo menos duas linhas de investigação. A primeira será em torno de Zoghbi, enquanto que a segunda terá como base a análise do material apreendido na ação policial, ocorrida há três anos.

¿É possível que seja aproveitado o que foi colhido durante a Operação Mão de Obra¿, confirma um delegado da cúpula da PF, explicando que o inquérito não será reaberto, mas toda a investigação acabará reanalisada. ¿Precisamos saber os limites que o Ministério Público vai dar para fazermos a apuração. Agora, temos fatos novos, mas muita coisa pode ser aproveitada do caso anterior, que também teve alvos semelhantes¿, acrescenta o policial. Dentro da Polícia Federal, a decisão do MPF foi recebida com satisfação, uma vez que o trabalho em torno das irregularidades estava sendo feito pela Polícia Legislativa e poderia não gerar resultados.

Dentro do Senado, a Operação Mão de Obra flagrou dois servidores, Dimitrios Hadjnicoloau e Aloizio Brito Viera, negociando o resultado de licitações com empresários do ramo da terceirização. Os dois, aliados do ex-diretor-geral Agaciel Maia, perderam os cargos de diretores no ano passado depois de serem denunciados pelo Ministério Público, mas continuam trabalhando normalmente na Casa.

Chave A investigação da PF mostra, por exemplo, a atuação do lobista Eduardo Bonifácio Ferreira intermediando as negociações entre o Senado e as empresas. Em 2006, Ferreira foi flagrado pela polícia cumprindo expediente no gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB), então primeiro-secretário, responsável pelos contratos. O lobista, que também foi alvo de denúncia do MPF, tinha a chave da sala de Efraim, segundo as investigações. Na ocasião, a PF fez buscas e apreensões, mas pouco material foi utilizado nas investigações. Na época, houve a suspeita de que a operação havia sido vazada.

O Correio revelou no ano passado que Ferreira repassou a Efraim poderes para representá-lo numa empresa de fachada. O senador nunca esclareceu suas ligações com o suspeito. No seu inquérito, a PF pede à Justiça Federal que remeta o caso ao Supremo Tribunal Federal para que seja investigada a relação entre o parlamentar e o lobista. A investigação policial revela ainda que o nome de Agaciel aparece nas conversas telefônicas.