Título: BNDES: delegado diz ter indícios contra deputado
Autor: Freire, Flávio; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 01/05/2008, O País, p. 11
Sem citar nomes, Levin diz que há motivos para abertura de inquérito no Supremo; Tarso defende trabalho da polícia.
SÃO PAULO. À frente das investigações sobre uma quadrilha acusada de desviar recursos do BNDES, o delegado Rodrigo Levin disse ontem que a Polícia Federal tem indícios de que pelo menos um parlamentar teria envolvimento com as fraudes. Sem citar nomes, alegando sigilo no inquérito, Levin disse que a polícia já tem "motivos" para pedir abertura de inquérito no Superior Tribunal Federal (STF). A informação do delegado contraria a tese da cúpula da PF de que não haveria indício algum contra parlamentares.
Relatório reservado da PF revela que a investigação concentrou-se num dos acusados de participar da quadrilha, o sindicalista João Pedro Moura, ligado à Força Sindical, entidade presidida pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Indagado se a polícia trabalha com a possível participação de parlamentares no esquema, durante cerimônia de posse do novo superintendente da PF em São Paulo, Levin foi direto:
- A gente está analisando que tem indícios e motivos para instauração desse inquérito (no STF) - disse ele.
A jornalistas que o indagaram se os indícios comprometeriam Paulinho, Levin disse:
- Não vou falar porque tem muitas câmeras ligadas.
Pouco antes, ele havia assumido o mesmo discurso da cúpula da PF:
- A gente não investigou parlamentares, mas assessor de parlamentar. Finalizada a investigação, se a gente levantar que há parlamentar, instaura outra investigação, respeitando a prerrogativa de foro dele.
Também na posse do delegado Leandro Coimbra, o ministro da Justiça, Tarso Genro, voltou a defender a ação da polícia:
- A PF filmou um cidadão que estava sendo seguido e o fez em lugar público, sem devassar gabinete ou invadir o plenário. No momento em que o presidente da Câmara determinar que naquele local não pode ocorrer filmagem, não será mais feito. Mas não há irregularidade quando estamos na perseguição de uma pessoa suspeita em local público.
Advogados de alguns dos 11 acusados de participação em um esquema de desvio de verbas do BNDES vão pedir amanhã que o caso seja remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF). Eles alegam que a PF e o Ministério Público Federal agiram ilegalmente ao continuarem a investigação mesmo sabendo que parlamentares poderiam estar envolvidos.
Ministro do Trabalho defende Paulinho
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, manifestou solidariedade a Paulinho.
- Não existe nada contra o Paulinho. Alguém ouviu falar de um ex-assessor que conversou no telefone com ele. E aí? Outro fotografou ele passando coisa à assessoria e... qual é o fato? Qual é a prova? Não podemos no Brasil fazer um tribunal de inquisição, sem direito de defesa, sem conteúdo - disse o ministro, no lançamento da nova carteira de trabalho na Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo.
Ao lado de Lupi, Paulinho disse que não sabe do que está sendo incriminado.
- Na parte que li fui citado duas vezes. Falaram em um tal de Paulinho, que pode ser eu como podem ser outros. Sei menos que a imprensa.