Título: Caso Isabella: polícia pede prisão do casal
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 01/05/2008, O País, p. 15

Delegados entregam inquérito ao Ministério Público e acusam pai e madrasta por crime; defesa contesta laudos

SÃO PAULO. A polícia pediu ontem a prisão preventiva de Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Jatobá, suspeitos de matar Isabella, de 5 anos, filha dele. O pedido foi encaminhado ao promotor Francisco Cembranelli, junto com o relatório final do inquérito que investigou o assassinato da menina, em 29 de março. O promotor deve denunciar Alexandre e Anna Jatobá até terça-feira ao juiz Mauricio Fossen e reforçar o pedido de prisão.

De acordo com a tese da polícia, que sustenta o novo pedido de prisão, Isabella sofreu um ferimento no carro, foi asfixiada pela madrasta, desmaiou e foi jogada da janela pelo pai. O pai e a madrasta já foram indiciados por homicídio triplamente qualificado (crime praticado por motivo torpe, sem chance de defesa da vítima e com uso de meio cruel). A polícia também concluiu que a cena do crime foi propositalmente alterada.

Cembranelli afirmou que o juiz Fossen ficaria com o inquérito para lê-lo no feriado.

¿ Vou fazer a descrição que considero correta. Não estou preso a nada. Vou fazer minha descrição de acordo com meu convencimento e o que a lei me autoriza. O delegado pode até fazer uma qualificação (do crime) por motivo torpe, fútil, eu não necessariamente preciso seguir ¿ disse Cembranelli.

Enquanto o casal aguarda a decisão, fechado em um apartamento com parentes e os dois filhos pequenos, o trio de advogados contratado pelo pai de Alexandre, Antonio Nardoni, diz afastar a possibilidade de os suspeitos serem presos:

¿ O casal tem histórico que afasta a fuga. Decretou-se prisão temporária na noite do dia 2 (de abril) e eles se apresentaram no dia 3 ¿ disse o advogado Marco Polo Levorin, lembrando que uma das justificativas para a prisão é a possibilidade de fuga.

Inquérito enumera provas técnicas contra o casal

O inquérito descarta a presença de uma terceira pessoa no apartamento e enumera provas técnicas contra o casal: as marcas da tela da janela na camisa de Alexandre, as marcas no pescoço de Isabella compatíveis com as mãos da madrasta, a pegada do chinelo de Alexandre no colchão e o sangue de Isabella pelo apartamento, por exemplo. O inquérito também concluiu que seriam do irmão mais velho de Isabella, de 3 anos, os gritos de ¿Pára! Pai!¿ ouvidos pelos vizinhos na noite do crime. Ele teria gritado para o pai socorrer a irmã, que estaria sendo sufocada pela madrasta.

A defesa tentará usar a seu favor o fato de os laudos não confirmarem taxativamente se o sangue no carro da família e em uma fralda de molho no apartamento era de Isabella. O mesmo ocorreu com o sangue no sapato de Anna Jatobá. Não foi possível provar de quem era o sangue porque alguém tentou limpar as marcas, diz a polícia.

Ao falar das marcas de sangue e de uma mancha nas roupas de Alexandre, a polícia, ao interrogar o suspeito, afirmou que os laudos confirmavam que eram sangue e vômito da menina. Ao ver os laudos, que dizem não ser conclusivos os testes, os advogados comemoraram.

¿ Ficamos surpresos no melhor sentido da palavra¿ disse Levorin, sugerindo que, segundo os laudos, o sangue no carro, no sapato de Anna Jatobá e na fralda não era de Isabella.

Mas os laudos não descartam a possibilidade de o sangue ser da menina, apenas não há quantidade suficiente para os exames comprobatórios.

¿ As provas são muito vulneráveis ¿ disse Levorin.

O casal Nardoni deverá contratar peritos para analisar os laudos. A polícia, que prometia uma entrevista para esclarecer as polêmicas, entregou os documentos e calou-se. O Ministério Público, que não era favorável ao sigilo decretado pela polícia durante as investigações, também não divulgou os laudos.

Levorin disse que os gritos de ¿Pára! Pai! ¿ ouvidos pelos vizinhos eram de Isabella, pedindo ao agressor que parasse de machucá-la e chamando o pai. Ontem à tarde, Alexandre vetou a visita de uma integrante do Conselho Tutelar de Guarulhos aos filhos de 3 e 1 ano. Segundo o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ele, pelo interfone, disse que os filhos estavam bem. O Conselho poderá acionar o Ministério Público.

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