Título: Os pontos fortes superam em muito os fracos
Autor: Beck, Martha; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 01/05/2008, Economia, p. 26

Lisa Schineller, diretora para América Latina da agência de risco Standard & Poor"s, explicou que o grau de investimento se deveu ao "conjunto de fatores positivos da economia brasileira". Entre esses fatores, ela destacou a melhora no perfil da dívida e uma demanda interna forte, além da previsibilidade das decisões econômicas. Apesar da alta dos preços dos alimentos, a Lisa não acredita que a inflação seja um problema.

Marilia Martins

Por que a Standard & Poor"s decidiu dar ao Brasil o grau de investimento? Que fatores foram decisivos?

LISA SCHINELLER: Não houve apenas um fator. Foram vários. O importante para a nossa decisão foi o conjunto dos fatores positivos da economia brasileira atual. O Brasil tem demonstrado uma capacidade maior e mais sustentada de reagir a eventuais crises internacionais. Há hoje um compromisso importante do governo em manter a inflação dentro dos parâmetros previamente acertados, e o Banco Central tem agido de forma firme e inteiramente independente nesse sentido. Há também um perfil muito mais favorável na composição da dívida externa brasileira, há um esforço grande em manter um fluxo de investimentos em infra-estrutura, contando com a parceria da iniciativa privada. Há uma demanda interna forte, capaz de sustentar níveis de crescimento a longo prazo e melhorar a distribuição de renda. E, principalmente, existe hoje no Brasil mais transparência e previsibilidade nas decisões econômicas, o que produz um ambiente muito favorável aos investimentos.

É possível estimar quanto deve crescer o investimento estrangeiro no Brasil?

LISA: Não. Seria muito difícil fazer uma previsão. O que o grau de investimento vai produzir de imediato é um espectro mais amplo de investidores dispostos a apostar na economia brasileira. Os fundos americanos procuram transparência e segurança na hora de investir e o Brasil está entre as boas opções do mercado.

Quais são ainda os pontos fracos da economia brasileira?

LISA: Neste momento, é fundamental ressaltar que os pontos fortes superam em muito os pontos fracos. Mas podemos dizer que persistem no Brasil alguns entraves que atrapalham os negócios, como a burocracia ainda elevada, alguns desequilíbrios fiscais e deficiências no setor de infra-estrutura. Se a reforma fiscal em votação no Congresso for aprovada, seria um importante impulso para o crescimento do país. Prevemos para este ano um PIB de 4,5%, ainda inferior ao de muitos emergentes. Por isso, será preciso concentrar esforços em reduzir o chamado "custo Brasil". O Brasil também precisa investir mais em infra-estrutura, precisa manter um nível de investimentos superior a 20% do PIB.

O aumento dos preços globais dos alimentos pode vir a desabastecer o mercado interno e levar à alta da inflação?

LISA: Não acreditamos que a inflação seja um problema. O Banco Central tem agido de forma firme e demonstrado, repetidas vezes, seu compromisso em manter o índice dentro da meta prevista (4,5%). A solução para o dilema entre abastecer o mercado interno ou fornecer alimentos para o mercado internacional é muito simples: basta aumentar a produção. O Brasil tem agora uma grande oportunidade de aumentar sua produção e conquistar ainda mais espaço nos dois mercados que se abrem para os fazendeiros: o interno e o externo.