Título: Para Lula, com grau de investimento somos donos do nosso próprio nariz
Autor: Beck, Martha; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 01/05/2008, Economia, p. 26

Governo: decisão mostra o reconhecimento do sucesso da política econômica.

BRASÍLIA, MACEIÓ e RIO. O governo comemorou ontem a elevação do Brasil a grau de investimento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "o país vive um momento mágico" e já é "dono do próprio nariz". Já a equipe econômica ressaltou que a decisão da agência de classificação Standard & Poor"s mostra o reconhecimento do sucesso da política econômica e levará ao aumento dos investimentos estrangeiros diretos no país.

- O Brasil vive um momento mágico. Passamos a ser donos do nosso próprio nariz. Uns dizem que pode ser ótimo, outros dizem que pode ser não ótimo porque pode entrar muito dólar e o dólar está se desvalorizando diante do real e isso pode ser muito ruim. O que é importante é que não é o real que está se desvalorizando diante do dólar. O dólar está se desvalorizando diante de todas as moedas do mundo - afirmou Lula, em evento em Maceió.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Brasil entra num clube seleto de países:

- O Brasil entra no clube dos países mais respeitados, que são considerados sérios e têm uma economia sólida e atraente para investidores. Esse grau de investimento é importante porque é recebido num momento de crise da economia mundial - afirmou, apesar de reconhecer que o possível aumento do fluxo de moedas estrangeiras para o Brasil tende a forçar ainda mais a valorização do real, agravando a situação dos exportadores.

Para FH, classificação já deveria ter sido dada

Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a decisão coroa um processo de mudanças iniciado nos anos 90:

- Temos de ter a sabedoria para aproveitar este bom momento. Não podemos apenas deitar sobre os louros e ficar de nhenhenhém. Temos de manter a política fiscal responsável.

Paulo Bernardo soube da novidade enquanto recebia uma comissão de executivos de outra agência, a Fitch Ratings. Na saída do ministério, a diretora-sênior da Fitch, Shelly Shetty, limitou-se a dizer que a decisão da concorrente não influenciará suas análises.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também comemorou o fato de o grau de investimento ter sido concedido ao Brasil em um momento de "incerteza e instabilidade da economia mundial". Ele ressaltou que o país está mais resistente a choques externos.

- É a previsibilidade que garante o investimento e o aumento da capacidade produtiva do país - afirmou.

Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, depois de um seminário no Hotel Glória, que a nova classificação já deveria ter ocorrido.

- Acho que já deveriam ter dado há mais tempo. Acho que todos os brasileiros estavam torcendo para isso - afirmou, acrescentando não confiar nas agências. - Olha o risco que elas correram lá nos EUA.

COLABORARAM: Maiá Menezes, Paulo Marqueiro e Odilon Rios (especial para O GLOBO)